01/02/2019
Ano 22- Número 1.111

 

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PEDRO FRANCO

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Dois livros históricos e de peso

Pedro Franco - CooJornal


Que não agradaram a destros e a sinistros. Incrivelmente ainda há os que se colam em Direita e Esquerda, como se fossem times de futebol, tipo uma vez Fluminense sempre Fluminense. E condutas políticas não devem copiar pragmatismos de torcidas de futebol. Vou citar livro escrito por um dos quatro maiores escritores patrícios: “Navegação de Cabotagem”. Nele Jorge Amado conta casos e ninguém tem mais sabor como contador de histórias que o baiano. Diz que é livro, onde conta fatos acontecidos e que substitui a autobiografia, que nunca escreverá. E por que este livro não teve a repercussão que merecia? Nem uns, nem outros, ficaram satisfeitos com suas verdades expostas. Uns não perdoam quem deles divergiu, outros não gostam de exibir suas entranhas. Vou passar ao outro livro, só que quem tiver, ou encontrar, o valioso livro, Navegação de Cabotagem, procure à página 10, onde em 1992 Amado faz avaliação do ex-presidente Lula. Que pensaria agora? E o imortal JA (não gostei do seu livro Farda, fardão etc, no gênero prefiro “Suas excelências, ou como entrar para a Academia”, de Guilherme Figueiredo), faz a apresentação deste outro livro, “Minha razão de viver”, escrito por Samuel Wainer, autobiografia. O jornalista acabou de contar seu livro, gravando em fitas, em agosto de 1980 e faleceu em dois de setembro de 1980. A primeira edição saiu em 1987 e com pedido à filha Pink Wainer para que determinados fatos só fossem escancarados 25 anos depois, quando muitos dos implicados já teriam falecido. Em 2015 a Editora Planeta lança o novo livro e com as retificações necessárias, organização e edição de textos de Augusto Nunes. Cito uma discussão que percorre o livro na primeira edição. Carlos Lacerda, defendendo sua Tribuna da Imprensa, dizia que Samuel Wainer não poderia conseguir determinadas concessões para sua Última Hora porque era estrangeiro. No livro de SW Lacerda, ex amigo, é pintado com cores trágicas, virando até o Corvo. Este assunto, ser brasileiro, ou não, fica na primeira edição no limbo, porque várias pessoas amigas de SW haviam prestado depoimentos, dizendo que o jornalista era brasileiro. E não era. SW, ainda que publique livro com fatos verídicos, escamoteia passagens que diziam respeito a estas pessoas, apenas para preservá-las. De importante contou tudo. De resto mostra as entranhas dos governos com os quais a Última Hora lidou. Menções especiais e elogiosas à Danuza Leão, que voltou à crônica em 2018 e tem me encantado nas manhãs de domingos (O Globo – Ela). Voltando ao Minha razão, quando estourou o “Mensalão”, quem lera Minha razão de viver, não teve espanto maior. O ótimo jornalista já contara tudo, ainda que com os nomes dos “vultos” da época anterior, exibindo o que se passava naquele quartel de Abrantes, chamado Poder no Brasil. E minha crônica serve então para fazer propaganda dos dois livros. Jorge Amado faz a apresentação do livro de Samuel Wainer e os dois se conheceram em 1938. O resto é a História do Brasil, contada por duas mãos hábeis. Estou elogiando o jornalista e não a pessoa. E não vai apresentar os quatro escritores citados no início da arenga? Machado de Assis, Jorge Amado, Érico Veríssimo e Monteiro Lobato. Se não leram “Reinações de Narizinho”, ou “Caçadas do Pedrinho”, ainda está em tempo, apesar de que os livros de Lobato, passados no Sítio do Pica-Pau Amarelo, teriam mais sabor, se fossem lidos em 1944 e o leitor tivesse nove anos. Antes de ser alfabetizado, oh saudades, minha mãe lia para mim as histórias do Sítio. Daí ter citado Monteiro Lobato entre os quatro e assim continuo julgando o mérito do escritor, que se junta a três imortais. Não é preciso ser da ABL para ser imortal em Literatura e a recíproca nem sempre é verdadeira.



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pdaf35@gmail.com 



Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
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