16/12/2018
Ano 22- Número 1.105

 

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PEDRO FRANCO

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Dedo podre

Pedro Franco - CooJornal



Quem já não ouviu alguém reclamar que determinada pessoa tem dedo podre, apontando especialmente mulheres e que têm preferência por escolher parceiros cabíveis e aceitáveis para elas e que só lhes trazem depois dissabores. O comentário tem até nuances de machismo, porque independente do sexo muito se escolhe e com dedo podre. Tenho até a impressão que a maioria das belas estrelas, daqui e de outros países e com holofotes midiáticos em cima, não escolhe bem seus amores, vide em maioria suas biografias. Idem astros dos palcos, ou das telinhas, ou os que correm pelas quatro linhas dos campos verdes, que os quero verdes. E na maioria das vidas se pode apontar escolhas de dedos podres. Erradas e em vários campos e não só nas escolhas de parceiros, ou parceiras, também vejo furos nas escolhas de amizades. Há ditado popular asseverando que, diga-me com quem andas e te direi que és. Meio dogmático demais. Ainda que haja corruptela, que tem o diga-me e completa e te direi quem te acompanha. E de fato companhias podem estragar julgamentos, ainda que nem sempre corretos. E fugirei de apontar dedos podres na política. Saltemos de banda da política, que o mar não está para peixe. Então a vida mostra perene necessidade de escolher, apontar, caminhos e há caminhos em que entram dois e em breve voltam a caminhar solitários, com as tristes separações e põe tristezas nelas, até tenebrosas, quando deixam filhos pelo caminho, esquecendo que crianças não sabem dividir lealdades e podem sofrer muito com a separação dos pais. Então para chegarem ao casamento, com ou sem certidões, vejam se estão apontando certo, se há respeito entre os pares, se possível afinidades e o indispensável amor. Neste tumultuado início de XXI amor é muito confundido com paixão/interesse. Deixemos os casais pensando se devem, ou não, ir em frente de mãos dadas, ou caminhando sozinhos. E vamos ao dedo podre em literatura. Em cada livraria, sebo, ou página na internet, como há livros a apontar. E como dedos podres e até por interesses materiais nos apontam livros ruins, idem filmes, idem o resto. Fulano é meu amigo, então seu livro, que nem vou ler, é ótimo e gasto até tinta de impressão para elogiá-lo. Vale dizer que em igrejinhas e como é difícil fugir delas e as há até muito cordiais, os dedos podres devem, oh tristeza, apontar obras de confrades e confreiras que nem sempre mereceriam o destaque. Agora quando alguém, que se designa como crítico literário e assina como tal, a igrejinha não pode ser tolerada. É como se o médico, que é amigo do dono do laboratório de produtos farmacêuticos, prescrevesse o medicamento da firma do amigo, quando não é aquela droga a mais indicada. Vejo muito isto nos campos esportivos. Ex-jogador (a) ganha latinha para comentar seu esporte. De início o corporativismo fica sendo seu lema e tome elogio a pernas de paus, ou mãos furadas. Depois, com o tempo, vai perdendo afinidades esportivas e, muitas vezes, pode comentar e criticar ex-colegas com distanciamento e imparcialidade. Ao aceitar ser cronista, crítico, sua função agora é mostrar sua verdade, a verdade que viu e sem dedos podres. Dedo podre raramente aponta com sucesso, ainda que possam ocorrer exceções, principalmente quando há o maior sentimento de permeio, o amor. Ela parecia que apontou com dedo podre e o indigitado pelos séculos e séculos a levou ao paraíso. O amor contraria até dedos podres, creiam. 
 



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pdaf35@gmail.com 



Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
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