01/08/2018
Ano 21- Número 1.087


 

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PEDRO FRANCO

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Pirandello acertou em cheio

Pedro Franco - CooJornal


 
“Assim é, se lhe parece”. Luigi Pirandello conseguiu em título dizer muito, o que raramente se consegue. E todos os dias vemos pessoas que percebem como lhes interessa, independentemente da cultura que tenham amealhado durante a vida, ou a inteligência com que foram distinguidas. Nas relações de amor, ou de família, então as ações são deturpadas e cada participante julga da forma que lhe apraz na maioria das ocasiões. Vi várias vezes o mesmo fato ocorrer e de forma semelhante, já que igualdades totais são difíceis, ou impossíveis, como preferia Voltaire e a forma de ver, interpretar, ficava absolutamente diferente. Vou, com os riscos inerentes à conduta, exemplificar. Quando algo acontece com o filho, o entendimento é um, quando ocorre com o genro, é completamente diferente. E a situação de vida era semelhante em gênero, número e grau. E o julgamento não era feito por tolos, ou primitivos. Como era desencadeado por pessoa de nível de cogitações elevado e estou usando uma daquelas locuções da moda, havia argumentos, fracos, sofismas, perante os verdadeiros acontecimentos da vida. E estes argumentos pueris, que serviam de base ao julgamento esdrúxulo, vinham recobertos por razões inconsistentes, repetidas até a náusea, para ver se a repetição daria respaldo às distorcidas interpretações. Será que assim era, se lhe parecia, ou não lhes parecia e queriam que aos outros parecesse? A vontade era chamar o julgador perante à realidade, mostrando ações semelhantes, sendo julgadas por critérios díspares e injustos. Mudemos de sexo. Se a filha é gastadeira, não há comentários desfavoráveis, ou conselhos. Se a nora gasta até um pouco menos que a filha, o fato é anotado e pequenos abalos nas relações familiares podem ocorrer. Em contrapartida se a mãe faz um comentário, se aceita, pois, de fato foi pertinente, educado, oportuno, só que se a sogra, uma boa sogra por hipótese, bem educada, gentil, aborda o mesmo assunto com maestria e oportunidade, a deixa não é bem recebida e o filho da sogra, o marido, ouve poucas e boas. Minha dúvida sempre é pirandeliana; se julgaram as ocorrências, errando intencionalmente, ou se viu o que gostaria de ter visto. E se ao menos as pessoas, nas relações mais íntimas, amorosas, ou familiares, procurassem ver com absoluto sentido de justiça e bondade, muitos desacertos seriam evitados e os imprescindíveis relacionamentos, no amor e na família e mesmo no trabalho e na sociedade, correriam em caminhos mais ensombrados e calmos. Assim é, se me parece, acredito. E na vida se deve julgar, ou não, é pergunta que muito se faz, ainda que a resposta esteja diante de cada um. De maneira certa, ou errada, negligente, ou interessada, querendo ou não, na vida não fazemos outra coisa se não julgar, na maioria das vezes sem mesmo perceber. De novo, assim me parece.



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pdaf35@gmail.com 



Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
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