01/05/2018
Ano 21- Número 1.075


 

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PEDRO FRANCO

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PÓS FESTAS

Pedro Franco - CooJornal


Há poetas que escreveram para eles, outros para os leitores e alguns, sem saber, ou querer, para a posteridade. Entre meus poetas conhecidos e louvados não estava Thiago de Mello e eis que me deparo com. “Oh, como somos tristes. Tão terrivelmente tristes depois das noites alegres.” Concordam que esta poesia fica para a posteridade, sucinta e profunda. Tanto que permite conjecturas. Podemos pensar que depois de uma comemoração e regada a álcool e alegrias, podemos até não ter dor de cabeça e, mesmo se não deixamos percalços por atitudes tomadas sub Bacco, pode bater certa melancolia pela perda da alegria, que sentimos ontem. E nem quero falar no pós amor! Férias se prestam muito a deixar um travo amargo, quando se volta, ainda que se goste do trabalho usual. Para cair em comparação prosaica e corriqueira, as férias são a cereja do doce, para quem gosta de cereja, no doce da profissão. Quem não está de bem com sua atividade, então as tristezas são maiores e de condoer na volta ao batente. Quem sabe o que o poeta pensa, quando atira para a eternidade frase que dá margem a elucubrações? Exemplo mais gritante foi o poema da pedra no caminho de Carlos Drummond de Andrade. Tantas interpretações deram à sua pedra, algumas cheias de desvãos psicológicos e até políticos, que o poeta veio a público e avisou. Estava sem assunto e havia que escrever. A falta de assunto era a pedra no caminho e que não lhe dessem interpretações indevidas. De Thiago Mello qual era a pedra? O amanhã de ontem de festa mesmo, ou quem sabe pensava na mocidade, a festa e a vinda dos anos e por fim a velhice. Está em moda e provavelmente com razões de peso, tirar pesos da velhice e com ações positivas em meio a eufemismos insuportáveis. Acho ótima a ideia de tapar sol com peneira. Quando se emprega a tola mensagem e para quem está com neurônios saudáveis e críticos, nunca se tapa sol com peneira e não me parece saudável tentar engambelar os que não são tolos. Fica lamentável. A terceira idade é a melhor idade. Vaia estrepitosa. Portanto há que ficar triste, mesmo se a vida foi mais alegre que triste. Fica bonito em bossa nova e me parece verdade, “tristeza não tem fim, felicidade sim” (Tom Jobim), ou ainda a “Azul da cor do mar”, onde o Síndico Tim Maia avisava “que uns nascem pra sofrer, enquanto o outro ri”. Infelizmente nenhum outro ri sempre e há até uma espécie de melancolia no pôr do sol. Já o nascer do dia é radiante. E a crônica, se é que é crônica, caminhava para passos nostálgicos, quando ainda estamos na festa. Isto é, respiramos. E todos devem contribuir para que ela, festa, perdure. Acredito até que os caçadores de votos devem ter este cuidado, até porque o povo os paga para manter o circo. Oh caçadores, não façam a patuleia chorar.  



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pdaf35@gmail.com



Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
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