15/04/2018
Ano 21- Número 1.073


 

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PEDRO FRANCO

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BOLEROS

Pedro Franco - CooJornal


O de Ravel não é bem um bolero e o próprio autor, que o fizera por encomenda de bailarina, pensou em criá-lo como fandango e por fim optou por bolero. Maurice Ravel julgava com prudência sua obra e ao ouvir de uma espectadora que era obra de um doido, afirmou que ela entendera bem. Diga-se que gosto do Bolero de Ravel, que muito depende da orquestra e do arranjo. Mas vamos ao bolero dançante, para que a maioria dos mais novos torce nariz. O bolero nasceu mais propriamente em Cuba, ainda que tenha raízes espanholas. Frutificou na Argentina e no México e se espalhou pela América Latina. O tango, que tanto sucesso fez na França, é primo do bolero e Cony dizia que o tango era a dança dos punhais sem ponta. Parece que não entendi bem, só que o tango é dança mais de exibição, que de envolvimento emocional. Pergunta cabível? Já dançou um bolero à meia luz, destes bem melosos, com mulher bonita, enlaçada, rosto colado? Nem quer dançar assim? Tudo bem, não sabe o que perde. Se sei dançar bolero? Sabia. Tango? Nunca soube. E nos bailes semanais em clubes de bairro boleros grassavam. Muito namoro começou ao som de um bolero. Vale afirmar que gostava também de dançar sambas, ainda que boleros fossem mais românticos. Está bem, concordo, a poesia dos boleros era arrebatada em excesso, puxada no trágico, muito amor não correspondido, os cantores do gênero talvez se excedessem no volume, letras machistas, tudo bem. E quem cantava boleros? O espanhol Gregório Barrios se criou musicalmente na Argentina, cantava tangos, galã de filmes e eis que descobre os boleros, vem para o Brasil, faz um sucesso incomparável e... Acaba pobre, sendo vendedor de sapatos. Vender sapatos é ótimo, só que quem ganhou o dinheiro que quis, acabar dobrado no chão, já com idade, experimentando sapatos femininos, não era de se esperar. Por que acabou assim? Não consegui saber. Bolero serviu como mensagem antirracista, “Angelitos Negros” (Manoel Alvares/Andrés Eloy Blanco). Junto a “Tributo a Martin Luther King” (Ronaldo Boscoli/Wilson Simonal) e “Strange Fruit” (Abel Meerope), na voz de Billie Holiday, são três canções populares que combateram o racismo de forma meritória e a última música citada recebeu interpretação primorosa de cantora de jazz. E quem mais cantou boleros? O mavioso Pedro Vargas, Carlos Ramirez, (que aparecia nos musicais da Metro, descendo uma escada e soltando a voz), o mexicano Lucho Gatica, Também Bienvenido Gandra, Julio Iglesias, Eydie Gormé com o Trio Los Panchos e, não estranhem, Frank Sinatra. O ex Menudo Luís Miguel manda bem e vai em todas com voz firme. Elvira Rios e Liberta Lamarque e outras cantoras cantaram boleros, só que era mais música para cantores. Nat King Cole foi ao ritmo e com acerto. Bolero não é de sussurros, exceto quando João Gilberto os escolhe. Alguns da música erudita foram aos boleros, exemplos, Placido Domingues e Andrea Bocelli. Entre nós, com interpretações personalíssimas, o já citado João Gilberto e também Altemar Dutra e Carlos Alberto, este em versões. Quem melhor cantou boleros no Brasil? Cauby Peixoto. Elis cantou o bolero de Satã e também o “Dois pra lá, dois pra cá” de Aldir Blanc e João Bosco. Vinicius e Toquinho foram de bolero em “Onde anda você?”. E vamos a pedacinho e em tradução canhestra de um bolero “Una Mujer” (Paul Miraski/Pontal Rios/C. Olivari), A mulher que ao amor não se assoma, não merece chamar-se mulher. É qual flor que não expande seu aroma, como lenha que não sabe arder... Eram letras machistas, aceito, de um parnasianismo nem sempre louvável, ainda que muitas inspiradas e escritas por bons poetas, feito Don Agustin Lara (“Maria Bonita”, homenagem a Maria Felix) e entre muitos escreveu um que é das minhas preferências,”Farolito”. Para não tornar a lista grande, cito ainda o cubano Oswaldo Farrés, com seu “Quizás, quizás, quizás”, cantado também por Nat e Doris Day. Roberto Carlos e os Beatles, estes mais por Paul McCartney, foram ao ritmo bolero. E, saudades, dancei muito bolero com a orquestra de Ruy Rey de Las Américas. Tinha uma rumbeira, Alba Regina, que merece outra história. Ruy Rey cantava “Ya son las doce y no vienes...“, bolero que não consegui saber o nome, ainda que recorresse ao Dr. Google. Enfim, dançar bolero foi ótimo. O amigo (a) dançou boleros?  



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pdaf35@gmail.com



Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
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