15/01/2018
Ano 21- Número 1.061


 

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PEDRO FRANCO

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HINOS, MUITOS HINOS

Pedro Franco - CooJornal

 
“Amo tanto e estremeço esta terra, quero tanto ao meu vasto país, que se algum dia eu partir para a guerra, eu irei bem contente, feliz”. Canção do soldado. Diga-se que o “Ouviram do Ipiranga às margens plácidas”, nosso hino nacional, é vibrante, com termos algo rebuscados para nós da patuleia e também cai na classe dos cantos guerreiros. Em beleza talvez perca para a Marselhesa, ainda que esta seja mais belicosa por certo, mais contagiante e considerada por maioria o mais belo dos hinos, o francês. Vale dizer que o Brasil gosta de hinos e cada estado tem o seu, ainda que de gosto musical duvidoso. E no Brasileirão como se ouve hino chocho. Os estados deveriam ter chamado Lamartine Babo, que fez os dos clubes cariocas, para compor os estatais e assim teríamos hinos mais palatáveis e interessantes. Basta citar o “Sou tricolor de coração” e destaco trecho, agora algo esquecido, que reza, “fascina pela sua disciplina”. Há hinos nacionais e estaduais tão chatos que tentam levá-los a capela, por cantores populares de renome e nem sempre o coitado (a) se salva. Já o Rio de Janeiro, fazendo de uma marchinha seu hino, escrita em 1934 e por decreto transformada em hino em 1960, fez gol de placa. “Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil” e minha pranteada e muito querida mãe sempre se emocionava ao ouvir a marcha, que virou hino. Ótima virada. E no meio de muito hino calhorda aparece o “Cisne branco”, o da Marinha Brasileira, para nos encantar, hino que nos fala até em saudade. Mais canção e é elogio, que hino. E volto ao hino que dá início à crônica. Seria sua letra tentativa de lavagem cerebral, ainda que não inventada de fato naquela época? Se algum dia eu partir para a guerra, eu irei bem contente, feliz. Deixar o amor de sua vida, familiares e amigos, ir para matar, ou morrer, ou voltar estropiado, se não no físico, ao menos na alma e vai alegre? Seu adorado país precisa tudo bem, vai, mas ir feliz? Muitas coisas o adorado país precisa, vide agora a injusta e absolutamente necessária reforma previdenciária, que assola também nações mais bem estruturadas financeiramente que nós. Quando uma medida atinge o bolso de cada um, vira grande estrupício e cadê patriotas? Quando dói no bolso fica ruim, que dirá quando pode atingir a carne na guerra? E o cara canta que vai feliz? E muitas vezes, talvez em maioria, as guerras têm conotações econômicas, mais até do que ideológicas, ou defensivas. A História conta que Getúlio ficou entre os dois lados e o coração dele balançava. Será? Balançou para os vitoriosos ao menos, se é que em guerras há vitoriosos. Parece que no hodierno há botões que podem desencadear guerras e até atômicas. Que estupidez! Ao menos o cara nem vai para a guerra, a guerra é que chega a ele. E há bombardeios cirúrgicos e às vezes com efeitos colaterais, isto é, morrem inocentes. E a grande maioria dos hinos incita às guerras e pelo mundo todo. Provavelmente os hinos podiam ser mais abrandados, mais pacíficos e, se fosse possível mudar, abrandar a letra do Hino Nacional. E que tal também mexer na bandeira. Ficaria igual em cores, só que se alteraria o dístico. Ao invés de Ordem e Progresso, que tal Honestidade é Progresso. Passaria no Legislativo, se assim labutassem os marqueteiros. Conto maldade carioca, houve época em que, em vez de Cidade Maravilhosa, (André Filho, para o Carnaval de 1935), se ouvia, “Rio de Janeiro, cidade que me seduz, de dia falta água, de noite falta luz.” E então nos veio a Cidade Maravilhosa, “coração do meu país”. Viva o Rio, o espirito ameno e antigo do Rio, já que hoje chovem balas perdidas e seus políticos proliferam nas cadeias.

 

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(15 de janeiro 2018)
CooJornal nº 1.061



Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
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