01/01/2018
Ano 21- Número 1.059


 

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PEDRO FRANCO

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Natal e sua Árvore em 2017

Pedro Franco - CooJornal

 

Entrávamos em dezembro de 2017 e Vovó Leca começava a armar a Árvore de Natal, pensar na Ceia e preparar o apartamento, que fica em frente à casa de muitos Natais passados. Sentado e impossibilitado de ir ao computador, que pifou, para digitar a crônica sobre esta delicada e trabalhosa operação, resolvi escrever a crônica a lápis. Via agora e já conhecia a faina de outros dezembros. A arte de armar a Árvore começa pelo desarmar, já que vários e antigos enfeites têm histórias e antes filhos e agora netos procuram os enfeites antigos e, dando voltas em torno da Árvore, apontam os novos e, em meio a luzes piscando, há encantamento em todos os olhos. Tomara que um dos três se anime, melhor ainda os três, se animem e tragam os nossos bisnetos para participarem das mesma tradições. Como precisamos delas e cada vez mais, já que elas estão sendo desprezadas. Os netos, médica, advogado e engenheiro, cito em ordem cronológica, que sou avisado, voltam no tempo e apontam enfeites. As árvores são trocadas, que ficam velhas, desgalhadas, não os enfeites. Raramente um é barrado e haja sustentação para alguns, já precisando de muito apoio. Aquele ali é do meu tempo de menina, diz a filha, aquele foi mamãe que trouxe e é novo, aquele tem um verso do Vovô, eu gosto mais daquele anjinho, coitadinho, apesar de estar descorado! Cadê aquele que é tricolor? Este Vovó trouxe de Londres, há muitos anos. E enquanto a avó, pacientemente arruma enfeites, procura o melhor ângulo para aquele Papai Noel e para a nova guirlanda, vou escrevendo e, sem perceber, me emociono. Não é esta árvore um simples ornamento em uma sala, não é apenas um objeto decorativo. É alma de uma família, é a sabedoria/ingenuidade da Avó, passada para filhos e netos e simbolizada pela Árvore. É pictoricamente a mais rica ou bonita que já vi? Não e nem é muito grande. Não ganharia prêmio em concurso, sei, tenho até a certeza, pois lamentavelmente não conseguimos ainda passar sentimento para os objetos, pelo menos aos olhos dos não iniciados na contemplação anual destes galhos especiais. É esta a crônica que fui escrevendo a lápis no papel de rascunho? No torvelinho do embrulha presentes, que se seguiu, lá se foi a página com o início da crônica. Tenho nas mãos, agora, que pude voltar ao computador depois da lanternagem do mesmo, os garranchos que restaram com o fim da crônica, que aí vai. E a Árvore não vive só do cuidado, do carinho, no armar. Houve desvelo e emoção ao desarmá-la, depois que passa a Festa dos Santos Reis. Cada enfeite tem uma história, o amor de quem os coloca nos galhos verdes de papel crepom. São embrulhados um a um em papel fino e embalados. Muitos estranharão tantos cuidados em época tão difícil. Concordo que é necessário ter muita sensibilidade e até mesmo certo grau de ingenuidade para permanecer fiel ao espírito de Natal, às comemorações de Natal, simbolizadas nesta casa pela Árvore, pela Ceia, onde o filho em boa hora introduziu a leitura de frases de um trecho da Bíblia, evoluindo depois para mensagens de fé de outras publicações. Cada frase é lida por um dos familiares e às vezes só por ele. E vozes velhas e novas, uma de cada vez, reproduzem antigas e eternas verdades. E já em fevereiro a Avó começará a pensar na armação da próxima Árvore, nos presentes de fim de ano, na nova ceia e esta sensação por certo vai passando para o seu cotidiano, para seu papel de suporte de uma família; função que desempenha como esmero e eficácia, sem alarde, sem desejar maiores reconhecimentos. Faz parte da tradição de Natal o sentido da doação sem esperar retornos ou recompensas. Como seria bom se políticos copiassem as vivências dela! Sabe-se que estas criaturas, que tanto doam e sem pensar na retribuição, estarão no Reino dos Céus, onde por certo o Natal é comemorado pelo Pai, que nos emprestou o Filho, que nasceu em um lindo Natal, há dois mil e dezessete anos em pobre estábulo. Aleluia! Aleluia! Que todos sejam abençoados. Feliz Natal. Feliz 2018.

 

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(1º de janeiro 2018)
CooJornal nº 1.059



Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
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