01/11/2017
Ano 20 - Número 1.051


 

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PEDRO FRANCO

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A crônica se inicia a partir de brinde

Pedro Franco - CooJornal

 
Havia casa de vender guarda chuva, A Insinuante, que em dias da semana, se o aniversariante a procurasse e era no Centro do Rio, no dia comemorativo e com comprovação da data, ganhava um brinde. E nossa heroína era levada e, muito feliz, recebia o modesto brinde. Família pobre? Não. Pai no negócio de vidros e mãe dona de casa. A menina tinha irmão mais velho. Casais portugueses e em geral europeus tradicionalmente dão mais ênfase ao primogênito. E se a menina era cuidada no atacado, o mesmo esmero não havia no varejo. Aos quinze anos ensaiou ter festa e o pai ofereceu pôr um barril de chope no quintal. O barril a fez desanimar da festa. Pensou e com razão que os colegas do Instituto La-Fayette seriam convidados e os alunos do conceituado colégio, da Tijuca e adjacências, não casavam bem com festa de barril de chope. Voltemos aos seus cinco anos e morava no Centro da cidade nesta época. Colocaram-na em escola onde vários níveis se juntavam e a professora logo no primeiro dia deu uma varada em um aluno (estava em 1940) mau comportado. A menina fugiu da escola. Quando a levavam, fugia. Enfim prometeu que se fosse para outra escola, ficaria. Saiu de morar no Centro e foi para a Tijuca e para o Instituto La-Fayette. Já lera sua primeira palavra. O “guilobo”. Na escola disse bassoura (portugueses fecham o v, que parece b) e os colegas riram. É vassoura! Daí em diante e por 13 anos, do jardim da infância aos 18 anos no clássico, ninguém mais riu dela. Sempre primeira aluna. E no La-Fayette, de ótimas memórias para ela, no final do primeiro ano do clássico conheceu seu primeiro namorado, que cursava o primeiro científico. Aguentou-o de setembro a dezembro, vieram as férias e vendeu seu passe em março. Um chato. E nem mais se cumprimentavam. O chato nem queria cumprimentá-la. As turmas se reúnem para a formatura. Aceitou de novo o chato em lance que merece história especial. Formam-se. Vai seguir Letras NeoLatinas. Ele Engenharia. O chatíssimo pede que não siga carreira e seja dona da sua casa. Incrivelmente cede e aí passa cerca de dez meses em Portugal na quinta da avó. Muitas brigas por cartas. O chato continuava ciumento. Voltam e se casam. Ele mudou de carreira, trabalha e estuda. Ao menos é esforçado e fiel. Ele diz que sem a ajuda dela, não conseguiria se formar em Medicina. Moram com os pais dele. Sogra e nora, vai parecer patranha, viram mãe e filha e o marido era filho único. Ao casar pensa, se não vou fazer carreira de magistério, vou ser a melhor dona de casa. Foi. Exemplos. Sogra internada 40 dias em hospital. Heroína ao lado e sai apenas por 3 horas. O filho fica e a enferma avisa que ele pode saber Medicina, de cuidar de doente nada sabe. Dois netos moram em São Paulo e por fim os três netos, dois SP e um RJ, ficam de novembro a março com a Vovó Leca. Em julho também com ela. No início e no meio do ano em Petrópolis, onde têm casa de veraneio. Os netos adoram Vovó Leca, muito mais que ao vovô. Os paulistas se mudam para o Rio. Neta Mariana não tivera francês no primeiro semestre e a turma do Rio teve. Vovó Leca fizera Aliança Francesa, até o Nanci e logicamente em primeiro lugar. Foi mês de julho de intensivo francês. Já cuidara da instrução dos filhos, Denise, engenheira química, Carlos Diniz, médico e os ajudou com muito esmero. Ah os trabalhos de grupo sempre na casa do Grajaú. Mariana se apresenta na nova escola e está preparada em francês, mais que a turma, que tivera um semestre no idioma, avisa a professora. Vovó Leca pinta aparelhos de jantar em porcelana para Denise e Carlos Diniz e até quadros, faz a capa do livro de crônica do marido, “Casarios”. Pinta o Hospital Gaffrée e Guinle a bico de pena e serve para a capa para livro sobre o Prof. Fioravante Di Piero. Faz a revisão de tese de mestrado para amigo do marido, serve de copy desk para as inúmeras publicações do mesmo. Ficaria contando e contado suas proezas em prol dos seus. Foi ótima nora e acho que Jorge e Eugenie também não têm que reclamar da sogra. Paro nos encômios e emocionado. Não haverá brinde na Insinuante neste aniversário, apenas uns mimos. Vovó Leca faz 82 anos, comemoração em Itaipava, na Pousada Altenhaus. Em fevereiro de 2018, sob as bênçãos de Deus, farão bodas de diamante. Quem assina esta crônica e emocionado? Logicamente o chato. 

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(1º de novembro 2017)
CooJornal nº 1.051



Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
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