01/11/2016
Ano 20 - Número 1.004


 

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PEDRO FRANCO

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Preconceito e Nobel de Literatura 2016

Pedro Franco - CooJornal

Quem já não ouviu muitos afirmarem que não têm preconceitos? A choldra anda, aparecem oportunidades e lá vem a confirmação que a assertiva era errada e em algo do peremptório declarante se flagrava preconceito e dos mais tolos. Pior, nos pegamos preconceituosos, quando julgávamos, que, por exemplo, em literatura éramos imunes a preconceitos Vou a meu exemplo, para que outro não coloque carapuça indevida. Outubro de 2016, ano brasileiro conturbado, ainda com mais por vir e eis que a Academia Sueca dá o Prêmio Nobel de Literatura a Bob Dylan. Bateu-me logo uma indagação, será que não havia outro poeta para receber? Pergunta preconceituosa e no seu cerne, até porque não conheço bem as letras do premiado. Segundo e aí a asnice é indesculpável, por tratar-se de poeta popular e musical. E por que da mea culpa? Por várias vezes já defendi o Chico Buarque como o maior poeta brasileiro vivo e já publiquei crônica em defesa do autor, esmiuçando sua obra e em vários gêneros, quando agredido por suas ideias petistas. Não posso deixar de afirmar que na tal crônica, publicada na revista Rio Total, comecei pelo que Millôr Fernandes disse do Chico e eu também interrogasse como um criador poético tem ideias políticas ao menos arcaicas e de difícil defesa. Então, em função da obra, Chico poderia ser Nobel e eu não estaria com pulgas atrás da orelha. Pensei mais e percebi que tenho, para escrever ensaio, esmiuçado a ótima poética de autor popular de músicas românticas da metade do século passado, valendo asseverar logo que não é Orestes Barbosa, o do “Chão de estrelas”, música de verso até elogiado por Manuel Bandeira. Se coloco em pedestais poéticos (cito só para exemplos, Chico, Vinicius, Tom, Celso Brant/Milton Nascimento, Raul Seixas/Paulo Coelho, Dolores Duran, Roberto/Erasmo Carlos, Orestes – “a lua furando nosso zinco, salpicava de estrelas nosso chão”, Billy Blanco e paro por aqui, que a lista não acabaria), por que ter dúvidas do Nobel de Bob Dylan e sem conhecer em profundidade suas letras, ao meu ver prejudicadas pelo Dylan cantor? Vale citar como letra de muito valor a música “Strange Fruits”, do poeta Abel Meeropol, cujo pseudônimo era Lewis Allan, que teve dificuldade em musicar seu poema e depois em ver a música ir a disco. Billie Holiday cantou quase chorando “Strange Fruits” e a canção passou a ser das favoritas do repertório da cantora. Os frutos estranhos eram os negros enforcados pela Ku Klus Klan e pendurados em árvores... Preconceitos são sub-reptícios, dissimulados, insinuantes e todos devem assim conceber, para fugir deles. Ao contrário do costume na Rio Total me coloquei em foco e de forma negativa, contrariando, sei, conselhos midiáticos. Quem leu a crônica anterior, nesta mesma revista, vai me entender melhor.


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Comentários sobre o texto podem ser enviados ao autor, no email pdaf35@gmail.com  

(1º de novembro, 2016)
CooJornal nº 1.004


Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
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