1º/09/2016
Ano 20 - Número 998


 

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PEDRO FRANCO

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TEIMOSIA

Pedro Franco - CooJornal


Teimosia só pode ser admitida como virtude em gênios. Em normais pode ser burrice, por paradoxal que seja. Sei que paradoxos ficaram por baixo, depois que Oscar Wilde morreu. Que tal e é dele, “a Madureza agradece à Juventude o brilho da sua inexperiência”. A teimosia que dá certo é determinação, se dá errado é teimosia mesmo, erro, ou abrandando, equívoco. O indivíduo deve se curvar às opiniões alheias e segui-las como vaquinha de presépio? Logicamente que ninguém defenderá esta forma de agir. Só que deve pensar e repensar e sem antolhos no seu projeto, ou ideia, ouvindo os contrários. Percebo que estes teimosos de carteirinha parecem que são surdos e muitas vezes não são mal dotados de inteligência, só que se apegam às suas concepções e não ouvem argumentos e razões contrários, mesmo quando sua tentativa de solução, que merecerá comentário de amigo, ou familiar, foi um tiro no próprio pé. Se o amigo, ou familiar, vier com a chata frase eu não disse que ia dar errado, fica uma fera. Ele, amigo, esperou que a situação, que deu motivo ao conselho, se repetisse. Repetiu-se e o teimoso continuou teimando, a experiência do erro não lhe valeu de nada e outra vez atinge o próprio pé, em desastrada teimosia. Ai o amigo não aguenta e lhe mostra que seu conselho não foi seguido uma vez, duas vezes e pergunta se, na próxima ocasião de conflito, seguirá a mesma conduta anterior. Diz que vai, pois tenta dizer que as três situações não são iguais, há nuances, que o farão seguir no mesmo caminho, só aparentemente percorrido de outras vezes. Que fazer então? Nada. Principalmente se o amigo, por profissão, digamos para exemplos, Advocacia ou Medicina, sabe argumentar. Vamos fazer comparação entre esporte e política. Meu Fluminense foi à terceira divisão. Não serei teimoso, se ficar com ele e em febril torcida. Na política é diferente. Exemplo hipotético, para fugir de celeumas pessoais. Sigo o partido A. Ele chega ao poder. Só faz mal feitos, prova-se corrupção de seus políticos, desanda o município, o estado, ou o país. Será teimosia tentar defendê-lo do indefensável, parece-me. Política não é futebol e se não quero ser a metamorfose ambulante do Raul Seixas, preciso evoluir, ao menos procurar o menos ruim. Quando defendo o voto, ou a escolha do menos ruim, alguns vociferam. Defendo-me com hipótese prática. Tenho uma vaga de cozinheira em minha casa. Não há candidatas 100%. Escolho a 90% que seja limpa, tenha boa conduta, limpeza, urbanidade. Isto é 100%, dirão. Não, para mim não é, pois o frango com quiabo, ou o bolo de milho, não são espetaculares, não sabe pôr uma mesa nos conformes, ou é fan da Annita. Se para preencher um cargo, usualmente vamos ao menos ruim, já que ótimos não há, por que não me conduzir assim na política, onde os políticos devem ser os empregados do povo e não seus patrões? Ainda que alguns eleitos pensem ser patrões, donos do poder e omnia secula seculorum. É complicado cruzar os braços, quando alguém, a quem se tem estima, teima em escolher tolas sendas. Se o interlocutor amigo tem boa capacidade intelectual, talvez uma argumentação calma, não irritada, profunda, possa fazer reverter uma situação. Raramente consegue, se lida com teimoso. Às vezes o teimoso é genial, ainda que, sendo teimoso, vire surdo intelectual aos argumentos alheios. Então cruze os braços, pois gênio é raro, raríssimo e só ele tem o arbítrio de poder ser teimoso. E se o teimoso for um pobre de espírito? Melhor largá-lo de mão. Ele, teimoso, gosta de teimar, bater na mesma tecla, com argumentos plenos de sofismas e vai fazê-lo perder a paciência, cabelos, ter úlceras e nada vai adiantar. Se ele for então prognata e nem saberei explicar por que o prognatismo bate bem com teimosia, deixe-o teimar, teimar, não teime em ajudá-lo, exceto se você ainda for mais teimoso que ele.


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(1º de setembro, 2016)
CooJornal nº 998


Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
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