01/05/2016
Ano 19 - Número 982


 

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PEDRO FRANCO

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Considerações sobre os Riscos Cirúrgicos

Pedro Franco - CooJornal


Os pedidos médicos para que cardiologistas avaliem o risco cirúrgico dos pacientes vêm crescendo e este fato só beneficia a área médica, melhorando o sucesso das anestesias e cirurgias. Recebo o pedido de risco cirúrgico e tenho algo a constatar, visto que a solicitação do colega, usualmente cirurgião, não serve tão somente para compor uma espécie de “habeas corpus” preventivo para o ato cirúrgico. Serve para dar mais dados à equipe de cirurgia e contribuir para que o ato decorra com segurança para todos e especialmente para o operado, que fundamentalmente representa o interesse maior. Só que, ao lado de solicitações bem fundamentadas, encontro outras em que há o nome do paciente, as palavras risco cirúrgico com eletrocardiograma, data e a assinatura do médico. Pergunta-se ao paciente de que vai ser operado. Quase sempre sabe, sem pormenores e, algumas vezes, titubeia, até porque está muito ansioso com a possibilidade cirúrgica. Que tipo de anestesia vai receber? Muitas vezes desconhece. Já fez algum exame pré-operatório? Fez e porta, ótimo. Fez e não trouxe, complicado. Não recebeu qualquer pedido, não fez e nem sabia que devia fazer, péssimo. Portanto julgo que os pedidos de risco cirúrgico devem ser pormenorizados, apresentando o tipo de cirurgia, o de anestesia, enfim fornecendo todos os dados que possam auxiliar quem vai assumir a responsabilidade de assinar um risco cirúrgico. Quando a cirurgia não é de urgência, aconselho o médico a fornecer o risco cirúrgico no dia seguinte, para que os fatos médicos envolvidos sejam analisados com calma. Sei que a pressa hodierna pode ser arguida, mas não há como defender a falta de tempo para fazer a Medicina se tornar mais rápida e menos efetiva. Em contrapartida reconheço que muitos cirurgiões e anestesistas reclamavam dos riscos cirúrgicos que recebem, porque são sumários e sem os dados médicos que poderiam ajudá-los, dando aos doentes a chance de serem operados com mais segurança. As classificações de riscos cirúrgicos são várias e ainda não se encontrou uma que possa abranger todos os fatos pertinentes e que devem aparecer em um risco cirúrgico, dando uma real gradação ao que ocorre naquele paciente. Para evidenciar os problemas, que uma classificação de risco pode condicionar, convido os colegas e mesmo leigos interessados a reverem o que a sétima edição do “Braunwald´s Heart Diseases” preconiza, quando aborda o complexo tema. E classificações (por exemplo, a de Goldman, ASA e NYHA) reportam-se aos riscos cirúrgicos e, quando várias classificações aparecem em Medicina, é porque nenhuma delas abrange todos os aspectos envolvidos no tema. Pode ser difícil no tempo de uma consulta, na maioria dos casos sendo a primeira, chegar à conclusão abrangente e completa sobre o risco. Solicitar o risco de forma própria não deve ser complicado, fornecê-lo criteriosamente muitas vezes é preocupante para quem o assina. A prática do dia a dia mostra que os pedidos de riscos cirúrgicos devem ser pormenorizados, cabendo ao médico que vai avaliá-lo, fornecer à equipe cirúrgica os dados da anamnese e exames clínico e laboratorial, que podem auxiliá-la no pré, per e pós-operatório. Comemorativos dos doentes merecem evidência, como doenças concomitantes, ou prévias, medicação que usa, medicamentos que apresentaram efeitos colaterais, medicamentos que devem ser interrompidos, os que devem ser aditados, alergias apresentadas e seria prolongar em excesso estas considerações, que de fato só tem a finalidade de fazer ver que os pedidos de riscos cirúrgicos podem ser detalhados e as avaliações dos mesmos merecem ser completas, tendo todos a precípua finalidade de contribuir para o sucesso das cirurgias e a recuperação dos pacientes.



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Comentários sobre o texto podem ser enviados ao autor, no email pdaf35@gmail.com  

(1º de maio, 2016)
CooJornal nº 982


Pedro Franco é médico cardiologista, Professor Consultor da Clínica Médica C da Escola de Medicina e Cirurgia da UNI-RIO.
Remido da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Professor Emérito da UNI-RIO. Emérito da ABRAMES e da SOBRAMES-RJ.
contista, cronista, autor teatral
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