15/01/2016
Ano 19 - Número 968


 

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PEDRO FRANCO

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 Em defesa de Chico Buarque  

Pedro Franco - CooJornal


Inicio com Millôr Fernandes e depois continuo. “Desconfio de todo idealista que lucra com seu ideal” . O pensador referia-se ao poeta em entrevista. A agressão a Chico Buarque de Hollanda merece total repúdio, pois, por incrível que pareça, estamos em estado democrático. O incrível fica por conta dos inúmeros malfeitos, para usar terno oficial para a corrupção, velhacarias, mentiras e deslavadas, um rol de atitudes de fazer corar um frade de pedra. E vale lembrar e aplaudir nesta hora de profundo desassossego, os homens de bem, que trabalham, trabalharam e não se locupletaram com os dinheiros do povo. Dinheiro público não existe, existe o dinheiro pago pelo povo em escorchantes impostos. E querem agora e de novo cobrar a CPMF, que talvez de fato seja a única solução, ainda que a ser usada por mãos ineptas e eleitoreiras em cima de populacho despreparado. E quando se reclama do Executivo, Legislativo e Judiciário e o imbróglio Delcídio mostrou a contaminação entre os poderes, vale lembrar e mesmo divulgar para os mais jovens o conceito democrático do mais atuante político do século XX, que depois de ganhar guerra como premier, perdeu as eleições inglesas, Winston Churchill. “Ninguém pretende que a Democracia seja perfeita, ou sem defeito. Tem-se dito que a Democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos”. Portanto estamos em Democracia e o melhor poeta da atualidade, vide, apenas para exemplo, citar as músicas “Até pensei”, “Atrás da porta” (show de Elis Regina), “Dueto”, (idem com Nara Leão), “Olha Maria”, que juntou Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Chico (linda interpretação de Milton Anjo Barroco Nascimento), “Trocando em miúdos” e poderia citar mais umas dez músicas de elevada poesia, tem o direito de pensar como queira e ter ideias até contestáveis. E Chico foi ao livro e vou destacar apenas dois “Budapeste” e “O Irmão Alemão”. O autor foi ao teatro, virou Julinho da Adelaide para fugir da censura da “Redentora”, enfim merece respeito. Andou arisco na segunda campanha do Lula e sua mãe, lulista, foi chamada pelo candidato para pôr o poeta na, digamos, linha PT. Crônica tem a primazia de saltar de galho em galho, ainda que feito macaco gordo, possa quebrá-lo. Arrisco-me à queda para transcrever trecho de Jorge Amado, em um de seus melhores livros, “Navegação de Cabotagem”, que por contar verdades, nem sempre agradou aos de sua ex linha política. “Navegação de Cabotagem” foi livro publicado em 1992, pela Editora Record e estamos em 2016. Na página 10, assim comenta o autor: “Atento, acompanho nos vídeos a trajetória de Lula, candidato do poderoso Partido dos Trabalhadores, cuja fundação durante o regime militar tanto me alvoroçou. Não conheço Lula pessoalmente, dele falam-me bem e acredito. Parece-me homem direito, hoje coisa rara, sua atuação de dirigente sindical nas greves dos metalúrgicos, durante a ditadura, foi exemplar. O alarmante sectarismo de seu discurso eleitoral, ao que tudo indica, não é inerente à sua personalidade, decorre da própria campanha, influência talvez dos ideólogos do PCdoB que a dirigem e orientam. Discurso de um atraso pasmoso, como é possível imaginá-lo diante dos acontecimentos do leste europeu, ao fim de uma época, quando ruem teorias e estados, se desmorona o socialismo real, se assiste ao funeral da ditadura do proletariado? Discurso classista, aponta exatamente para a ditadura do proletariado: tão antigo e superado, dá pena. Chamo a atenção de Zélia para o fato de que jamais, no decorrer dos dois programas diários de propaganda eleitoral, em nenhum do momento o candidato do PT pronunciou a palavra povo, nem ao povo se dirigiu. Fala em nome da classe operária e a ela se dirige, amanhã no poder será a ditadura em nome dos trabalhadores, em nome do socialismo. Zélia não se altera, mantém íntegro seu entusiasmo cívico, trauteia, em reposta, o belo jingle de Chico Buarque: Lula – lá. Eu lhe digo, para atazaná-la: _ O discurso de Lula parece escrito em Tirana pela viúva de Enver Hodja. Dou-me conta que estou dizendo a pura verdade”. Nota na página: “Enver Hodja (1898/1985), ditador albanês de 1945 a 1985”. O que pensaria Jorge Amado de Lula nos dias atuais? É pergunta que ficará sem resposta. Então, volto ao fio da meada, defender Chico Buarque, que tem o direito de pensar como quiser, ainda que termine a crônica perguntando e todos têm o direito de perguntar. Como alguém de tantas virtudes intelectuais, tricolor de coração, exímio jogador de botões e ex craque de bola, pode defender o indefensável? E tão bem está e a sorte financeira lhe prestou homenagens merecidas, que não deve ter preocupações monetárias, que aconselhassem bater cabeça de aquiescência a atos governamentais, que poderiam comprar facilidades. Enfatizo, como alguém de tantas virtudes, inclusíveis de inteligência, pode cultuar o que não deu, ou dará, certo? Talvez venha resposta também complicada e esperta. Pela impossibilidade de ir à oposição. Também esta..., deixa para lá.  


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(15 de janeiro, 2016)
CooJornal nº 968


Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
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