01/06/2015
Ano 19 - Número 938


 

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PEDRO FRANCO

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 NOVA TRISTEZA

Pedro Franco - CooJornal


Já me chegavam as antigas tristezas sociais e aparece uma nova. Quem lida profissionalmente com o público, dependendo da função, pode fazer uma radiografia de problemas sociais. Na Medicina de consultório então os problemas ficam mais patentes, pois os pacientes passam, se o médico dá tempo, seus problemas. Entenda-se que corpo e mente andam juntos na saúde e na doença. Correrias em consultas não são recomendáveis e exames laboratoriais não substituem totalmente exames físicos e anamneses. Antes de entrar de fato na discrição das novas vamos a assuntos dos quais o País é carente e muito servem de slogans de campanhas eleitorais e eleitoreiras. Abordo Saúde e Educação. Ainda que médico, permitam-me inverter a ordem, Educação e Saúde, ainda que o binômio seja interdependente. Tendo-se educação, torna-se mais fácil recorrer a hábitos saudáveis. E logo fica claro que das classes profissionais mais importantes para a Sociedade é a representada pelos professores e especialmente pelos do ensino fundamental. De novo não estarei puxando a brasa para minha sardinha, porque tendo sido e com muita honra professor universitário, julgo o professor do ensino fundamental o mais importante na cadeia da informação e da formação. Então educação básica apresenta-se como indispensável para a formação da cidadania. E chego então às minhas novas tristezas, que de fato não são só minhas e foram passadas por professores, mais até por professoras e do ensino fundamental público. De longa data cuido da saúde de uma professora e nestes anos constatei o desvelo que tem pelo seu honroso mister. E eis que me avisa que vai se aposentar. Saúde boa, ainda forte e amando o magistério, ouvi a notícia e ela passou a nova com tristeza. Dá para resumir. Aluno fazendo confusão em sala de aula, logo nos primórdios do ano letivo. E ela o adverte sobre seus modos e pede-lhe que fique na sala, para conversarem, após a aula. Não vou ficar e você que se cuide que meu pai é dono do morro (esta espécie de posse vem pelo tráfico de drogas) e se você quiser me sacanear, mando meu pai vir aqui e acabar com esta merda. O discurso do aluno tinha mais palavrões. Dei uma limpada, para não sobrecarregar o texto. O sinal bateu, a turma foi-se e com ela o indisciplinado. A Professora vai à Diretora, dá o nome do aluno, pedindo suspensão. Nem pense em puni-lo, o pai de fato é o dono do morro e já ameaçou a escola. Você vai ter que aguentá-lo. Quase chorando a professora conta-me o fato e ela que sempre teve as turmas aprendendo, porque havia disciplina, vê-se agora sem moral, pois o menino continua aprontando com os colegas e zombando até dela. Que fazer? Pedir a aposentadoria, para a qual nem estava preparada. Contei caso extremo, sei. Outras e outras professoras queixam-se de como agora é difícil dar aulas, pois celulares e conversas dificultam a concentração dos alunos e nem sempre diretoras e as comunidades aceitam advertências, punições e repetências, mesmo se os alunos não sabem um terço do que deviam saber naquela série. Não tendo mais o comando na sala de aula, o mínimo que a educação dos alunos precisava, muitas pedem logo suas aposentadorias, quando têm tempo de serviço, ou, se não o tem, tornam-se joguetes de alunos e de pais de alunos. É portanto uma triste e nova história que ouço e deploro. Estou exagerando? Não estou e antes estivesse. Para exageros há borrachas que apagam. Para estes verdadeiros dramas e ouço histórias de clientes professores e professoras, de estarrecer, não vejo luz no fim do túnel. E sem educação, sem saúde, vamos continuar no estado deplorável de grande parte da sociedade. Colegas, que continuam no magistério médico também contam tristes ocorrências de indisciplinas em faculdades de Medicina. Se estão satisfeitos, ainda bem. Eu não estou!

 

- Comentários sobre o texto podem ser enviados ao autor, no email pdaf35@gmail.com

(01 de junho,2015)
CooJornal nº 938


Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
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