15/11/2014
Ano 18 - Número 915


 

ARQUIVO
PEDRO FRANCO

Venha nos
visitar no Facebook


 


 

 

Pedro Franco



ADRIANA CALCANHOTO

Pedro Franco - CooJornal

Um artista chama nossa atenção por uma de suas obras. Parece frase do Conselheiro Acácio e apenas serve para marcar o que primeiro chamou minha atenção no caso presente. E Adriana Calcanhoto se iniciou para mim com uma canção que requentou. "Devolva-me". Paradinha final, devolva-me. Espertos em MPB avisaram-me que a música "Devolva-me" (Lilian Knapp/Renato Barros) foi anteriormente gravada por Leno e Lilian com relativo sucesso. Só que na voz de Adriana Calcanhoto estourou e encabeçou o CD "Perfis" (2000), que de fato levou-me a louvar a cantora, que sabe usar sua voz e emoção, tanto quanto a letrista, que vem só, ou bem acompanhada, nas demais faixas do CD. O ótimo poeta Antônio Cícero aparece em parcerias com ela e com Paula Machado. Pinço frases das músicas por poéticas que julgo ser. No total das músicas as frases caem ainda melhor. Poesia é conjunto. "O nosso amor não vai olhar para trás, desencantar, nem ser tema de livro". (Mais Feliz, Bebel Gilberto/Cazuza). "Eu vi um avião se espelhar no seu olhar até sumir"; ou "E o inverno no Leblon é quase glacial". Ainda em inverno encontramos: "Onde foi exatamente que larguei/naquele dia mesmo/o/leão que sempre cavalguei?"/(Inverno, Adriana e Antônio Cícero). Como é bom por amor largar leões antigos e cavalgados! De "Mentiras" (Adriana Calcanhoto) não escolho frases e digo que é das maiores sinceras dores de cotovelo que vi em poesia e às vezes fica até chocante, "eu já arranhei os seus discos". "Cores de Almodóvar, cores de Frida Khalo, cores"...(Esquadros, Calcanhoto). "Carioca são sacanas... Cariocas não gostam de sinal fechado," Adriana entendeu a alma carioca, "cariocas não gostam de dias nublados". Cariocas (Adriana Calcanhoto)."Você tem meia hora para mudar a minha vida", que cabe muito bem no enredo da música (AC, Vambora).Também : "quando tem teu cheiro dentro de um livro". Vem depois "Por isso eu corro demais", não é da poeta gaúcha e sim de Roberto Carlos. Ficou ótima a sentida interpretação. Metade (AC), "eu não moro mais em mim". Amor faz isto, afianço. Pulei Senhas e Maresia e Adriana fecha o "Perfis" com Marina de Caymmi. E com este CD conheci Adriana Calcanhoto, que depois fez Adriana Partimpim. Dirão que é CD para criança. È CD para quem quer alegrias e há letras espertas e até Chico Buarque e Edu Lobo estão lá em "Ciranda da Bailarina". Você, cronista, está pulando vários CDs da cantora! Certo, só que não vim escrever sobre discografia, nem estou de marqueteiro. Vale afirmar que com o terrível horário eleitoreiro troquei as notícias da CBN, ida e volta para o consultório, por CDs e entre eles os de Adriana Calcanhoto, de ótima presença também em palcos, teve realce. E se Adriana Calcanhoto me foi apresentada por regravação, "Devolva-me", que tal sugerir utopicamente para ouvidos moucos que gravasse doze músicas, que escolheria ao meu temerário gosto. Algumas músicas nem preciso explicar o porque da preferência. 1- Caderninho, lançada por Erasmo Carlos, lembram-se? Autoria de Olmir Stocker, guitarrista, vulgo Alemão. "Eu queria ser o seu caderninho...". Acredito que faça o mesmo sucesso que Devolva-me. 2- Catavento e Girassol, Guinga e Aldir Blanc, cantada por Leila Pinheiro. Ganharia a roupagem Calcanhoto. A de Leila já foi elogiada 3´- Lábios que eu beijei (J. Cascata/Leonel Azevedo), cantada por Orlando Silva. Por que esta? Foi a primeira música que berrei. Lábios que eu beijei, mãos que eu afazei (copy desk, aceite afazei, eu tinha seis anos!) 4- Moonlight and Shadows (Frederick Hollander/Leo Robin), Bing Crosby entre outros cantou. Por que esta? Foi a primeira música que cantei em inglês, um inglês macarrônico que me acompanha. É fox antigo que poucos conhecem, lançado que foi em 1937 na voz que, ao gosto de quem digita, divide com Frank Sinatra o título dos maiores cantores do gênero. 5 e 6 boleros, Angelitos Negros e Farolito. Escolhas baseadas nos cantados por João Gilberto, de quem sou fã. Gosto também de "Una Mujer" (La mujer que al amor no si asoma). Acredito que Adriana dará belo toque de singeleza nestes dois boleros, inovando até. 7- "Metades", (Átila Santos e Diniz Franco) do CD da Trupe Limousine. 8- "Dueto", do Chico Buarque, ele e a Calcanhoto. Seria homenagem também à Nara Leão, que o gravou com Chico. Se Chico não quiser, pois anda perdido nas políticas, chamem Zeca Pagodinho, ou Milton Nascimento. 9 "Miragem de Carnaval" (Caetano Veloso). Do CD "Tieta do Agreste". Ótima música e interpretação primorosa de Zezé Motta. Não deram o devido valor ao CD, que Adriana o valorize. 10 - "Tributo a Martin Luther King", (Ronaldo Boscoli/Wilson Simonal), faixa que junto com "Angelitos negros" faria dupla de músicas antirracistas, tema que precisa sempre estar em voga, até para não inventarem racismo na Tia Anastácia de Monteiro Lobato. 11- Discussão (Tom Jobim e Newton Mendonça). Um encaixe perfeito de letra e música, que ganhará vida na interpretação de Adriana Calcanhoto, tenho certeza. 12- "Flores". Letra. "As flores murcharam na caixa//Perderam a vida//As flores que eu dei//O tempo levou sua marcha//As flores morreram//E só eu fiquei./Com os olhos cheios de saudade,/ Esquecendo até de beijar/As flores murcharam na caixa/E reviverão/Se você voltar./Se você voltar. Este refrão final precisa do jeito Lúcio Alves dissonante de fechar canções. Calcanhoto acertará e com sua interpretação acredito que as flores revivam e eufóricas.


(15 de novembro/2014)
CooJornal nº 915



Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
pdaf35@gmail.com
Conheça um pouco mais de Pedro Franco


Direitos Reservados