15/10/2014
Ano 18 - Número 911


 

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PEDRO FRANCO

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Pedro Franco



Turfe nostálgico e folclórico

Pedro Franco - CooJornal

Explico logo o folclórico. Vou contar duas histórias que podem ter acontecido. Não tendo certezas, vão sem nomes e só posso asseverar que podem ter acorrido.

O Turfe foi esporte aristocrático e dou três exemplos de Studs importantes e que venciam estatísticas. Linneo de Paula Machado (havia torcida por studs, jóquei e treinador. Era fã de Oswaldo Ulloa e Ernani de Freitas deste Stud), Stud Seabra (sua égua Tirolesa com o jóquei Domingos Ferreira fez sucesso, ainda que o primeiro jóquei da Coudelaria fosse Pancho Irigoyen, o que tinha um cronômetro no cérebro e sabia escolher o ritmo dos animais) e Stud Peixoto de Castro. Turfe era então um esporte de elite, ainda que muitos pés rapados frequentassem as tribunas populares. Cada tribuna tinha seu tipo até de vestimenta permitida. Aviso que não vou fazer comentários atuais, porque estou por fora do turfe e profissão, escritos e futebol me monopolizaram.

Que outro jóquei brasileiro tem um tango com seu nome e feito na Argentina. “Dá-lhe Rigoni”. Luiz Rigoni talvez tenha sido nosso melhor jóquei. À época, era o homem do violino, tal a forma com que tocava os animais. Há algum bicho mais bonito que cavalo? Só não dá para compará-los com lindas mulheres. Estava em Grande Prêmio Brasil. Uma senhora, que nada entendia de corridas de cavalos, tinha apostado em cavalo montado por Rigoni. Na reta oposta seu cavalo em último. Tive vontade de dizer-lhe que poderia rasgar suas pules. Ainda bem que nada disse. Rigoni venceu aquele Grande Prêmio Brasil em reta avassaladora. Jogara em outro cavalo e me vi batendo palmas e torcendo pela beleza da vitória. Enfim turfe não era só jogo.

Vamos ao folclore em duas histórias, que talvez não tenham acontecido. Havia páreos combinados, dizem. Determinado jóquei montava um favorito. Este favorito era “puxado”, isto é, o jóquei freava seu cavalo. Um azarão, cavalo de pule alta, vencia e o jogo todo era feito nos bookmakers, agentes ilegais que recebiam apostas por todo o Rio. Entram na reta. O azarão na frente e eis que o tal jóquei, do cavalo favorito, atropela e ganha o páreo. Aquele jóquei que estava combinado para não deixar seu cavalo vencer, foi abordado ferozmente por seus comparsas, comparsas de outras tramoias bem sucedidas e confessou. Deu em mim um frenesi na reta final e quando percebi estava dando asas ao cavalo. Só não apanhou porque haveria outros tribofes e outros páreos a serem combinados. Segundo folclore. Duas premissas para que a jogada desse certa. Não havia radinhos de pilha, não havia transmissão da corrida no Hipódromo da Gávea. O páreo correu, o locutor oficial da única rádio que transmitia a corrida não fez a transmissão e esperou o páreo terminar. Sabendo o vencedor, os que estavam mancomunados na triste história acorreram aos books, que ficavam nas cercanias do Jóquei Clube do Brasil e descarregaram cruzeiros no cavalo vencedor. E então o locutor transmitiu o páreo, no qual se baseavam os bookmakers para fazerem seus pagamentos. “Si non é vero”... No autódromo havia um microfone que dizia aos da tesouraria do Jóquei Clube: Podem pagar. Era música para ouvidos vencedores.

O Grande Prêmio Brasil era acontecimento de monta na América Latina e festa que arrebatava a cidade e durante as tardes de Grande Prêmio o Rio e naquela semana, onde havia até corridas a noite, era dominada pelos acontecimentos e elegâncias do Jóquei. Haroldo Barbosa, neto de Ruy Barbosa, além de autor de canções memoráveis, com muita verve mantinha seção permanente em “O Globo”, chamada “Pangaré” e ali o autor vertia todas as novidades do turfe e com muita graça e apelidos. Contei casos que podem até dar a ideia, ideia errada, de que o Jóquei era local de permanentes falcatruas. Estas eram exceções e grandes nomes da sociedade viviam o Jóquei e lutavam por um turfe honesto e que fosse mais esporte que jogo. Citá-los seria encher páginas e páginas. Ah, as tarde de domingo no Jóquei Clube Brasileiro. Dá-lhe Ulloa! Stud Linneo de Paula Machado, blusa do jóquei, ouro e costuras azuis.               


(15 de outubro/2014)
CooJornal nº 911



Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
pdaf35@gmail.com
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