10/06/2014
Ano 18 - Número 895


 

ARQUIVO
PEDRO FRANCO

 


 

Pedro Franco



Depressão

Pedro Franco - CooJornal

“Tenho certeza de que, quando entrar hoje no consultório e sou cardiologista, atenderei vários pacientes com sintomas de depressão.”

Vou abordar problema, médico e social, que tenho visto crescer no dia a dia da vida médica, os quadros de depressão psíquica. E escolho o tema, porque pessoas podem ser mal encaminhadas e a enfermidade está aumentando de incidência. Quando se solicita o parecer de um Psiquiatra, o paciente, ou seus familiares, abespinham-se e pode-se ouvir. _ Eu não estou maluco, Doutor! Ou. _ Papai não está maluco! Disto tenho certeza e, quando a depressão é leve, isto é, está em fase inicial, um clínico, um cardiologista, podem até enfrentá-la. Quando atingiu determinado nível de aprofundamento, ou está mascarada, é necessário recorrer ao médico especialista, pois os quadros podem ser graves e caminhar para soluções fatais, se não tratados. Outra má interpretação é tentar vencer a doença, não com medicamentos antidepressivos, com alternativas diversas e uma delas é: _ Vou levar papai para a Paris e ele volta bom! O Doutor vai ver! Nem Paris, nem Gramado, nem o Encantado curam depressão. Depressão é carência de determinados neurotransmissores no organismo. O "Bois de Boulogne", ou o "Les Deux Magots", ou “O Bar da Eva” no Grajaú, infelizmente, não têm a propriedade de fazer aumentar estas substâncias no sistema nervoso do modo desejado. Só medicamentos conseguem este efeito no necessário prazo. Depois se pode tentar tratar mais profundamente as causas da depressão. Na fase aguda é enfermidade, como outras, que necessita de remédios e prescritos de forma correta, com acompanhamento constante. O início do tratamento costuma ser difícil, mesmo para os especialistas mais experientes e para os enfermos mais dóceis. O binômio médico/paciente deve, precisa, funcionar de forma harmônica, com familiares atentos e ajudando constantemente os dois, paciente e médico. Ajudando e não atrapalhando, enfatizo este aspecto. E por que há mais casos de depressão no momento? É assunto controvertido. Na visão simplória de um cardiologista, três motivos sobressaem. 1º) vive-se mais. A meia vida das populações aumenta e temos mais idosos. Se há mais idosos, pensa-se na morte e em doenças e o número de aposentados cresce (se a aposentadoria não for bem equacionada, pode ser malefício permanente, ao invés de prêmio) e muitas vezes ficam aposentados com salários congelados, o que não acontece com determinadas bolsas. Por que?; 2º) os meios de comunicação, como a televisão e suas redes em destaque, mostram que se pode viver melhor, com mais distrações, com mais conforto e nem sempre estas melhorias são conseguidas, nestes tempos financeiramente difíceis, onde os salários são menores que os dias do mês e os remédios são onerosos. Faltam reais aos idosos e a assistência onera em excesso, havendo proventos de aposentadorias que parecem castigos. Não creiam que enfatizo os aspecto de modo desnecessário; converso com aposentados no dia-a-dia; 3º) a vida moderna está mais conflitada, violenta, preocupante, o romantismo cai, as separações aumentam, as ligações familiares fragmentam-se, a impaciência e o egoísmo campeiam e a política deteriora-se. Nunca neste País houve tanta demagogia e corrupção! Enfim, ocorre uma acomodação social, com suas naturais complicações, acrescida do novo fenômeno que é a semiglobalização do mundo. E este somatório de fatos faz aumentar a prevalência das depressões psíquicas, mascaradas, ou não. Assim, quando o médico faz o diagnóstico e trata, ou envia o paciente ao Psiquiatra, não há motivo para pensar em loucura, ou em encaminhamento indevido. E que a família tenha juízo e ajude o médico. Depressão mal orientada pode levar ao suicídio, ainda que raramente e, mesmo se este fato extremo não ocorre, é fase terrível da vida de cada paciente. Todos precisam ajudá-lo, entendê-lo, dando-lhe todo o auxílio que a Medicina e a Família podem proporcionar. E enquanto é tempo. Só faltou deixar algo alvissareiro nesta crônica. Tenho constatado a volta de muitos indivíduos deprimidos à vida normal e à felicidade, após esta fase cinza de suas vidas (o cinza no caso nada tem com livros de alta tiragem, que andam encantando incautos). Enfatizo que só se consegue este promissor resultado, a cura da depressão, com tratamentos e encaminhados dentro da mais moderna técnica médica.


(10 de junho/2014)
CooJornal nº 895



Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
pdaf35@gmail.com
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