08/11/2013
Ano 16 - Número 865


 

ARQUIVO
PEDRO FRANCO

 


 

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Pedro Franco



Amores de Cartola
 

Pedro Franco - CooJornal

“Tive, sim” - letra e música de Cartola.

“Tive, sim/Outro grande amor antes do teu/Tive, sim/O que ela sonhava eram os meus sonhos e assim/Íamos vivendo em paz/Nosso lar, em nosso lar sempre houve alegria/Eu vivia tão contente/Como contente ao teu lado estou/Tive, sim/Mas comparar com o teu amor seria o fim/Eu vou calar/Pois não pretendo amor te magoar.”

Há indisfarçável tendência de valorizar em literatura o que tem alicerces reais. Filmes, para chamarem bilheterias, avisam que os enredos baseiam-se em fatos reais, notas que, talvez em maioria, escamoteiam o verdadeiro passado ao bel prazer do escritor da nova história, mais ficção que realidade. Vai contar a vida do Manoel e só ficam três por cento do acontecido com Manoel das Couves. Ainda por ser real, ou não, conta-me poeta amigo, que suas mulheres, diga-se que para poetas chovem almas sequiosas de rimas e metáforas, sempre filiam suas poesias ao ocorrido nos seus “antigamentes” amorosos. Exemplo namorou Luiza, que era morena. Odette, a musa atual, loura, ao ler qualquer novo poema que fale em morena, absolutamente fictício e utópico, filia-o à morena Luíza e pairam sobre o casal amolações. Se morenas não desaparecessem de seus versos, lá vinham lamúrias, principalmente se a loura atual passasse por TPM. Sobre o tema abro parêntese para transcrever pequeno trecho do ótimo livro recebido a um par de dias. Trata-se de “Minigmas Frutos da Fabuleira e Dislates”, de meu mestre em arritmias cardíacas, literatura policial e cultura geral Ivan G. Maia: “Nas fases de TPM transformava-se em perigosa assassina. Fez tratamento para retardar a menopausa”. Voltando à loura Odette, deve ser ruim para o poeta encontrar esta domiciliar censura e ter morenas excluídas de seus poemas. É de Fernando Pessoa conhecido texto que fala nos poetas como fingidores. Reproduzo trova do importante médico e poeta, Miguel Russowsky (1923 - 2009), quando diz: “Na trova, às vezes invento/ emoções... e não sinto./ Mas creia no meu talento/ sou sincero quando minto.” Sobre o autor tenho opúsculo que conta sua vida e arte, que de fato merecem ser divulgadas. Retorno ao tema básico, de fato é baseado na realidade, ou na ficção, determinado escrito? Quase sempre há realidades no meio da ficção, ou vice-versa e muitas vezes o prosador, ou poeta, revela-se mesmo sem desejar. E porque a letra da música dá inicio ao texto? Mestre Cartola (Angenor de Oliveira, 1908 – 1980), torcedor do Fluminense, daí as cores da Estação Primeira de Mangueira, tendo o poeta, para não ficar muito futebolisticamente declarado, trocado o grená pelo rosa. Voltemos à vida do compositor. Cartola, que foi casado com Dona Zica, que após a sentida morte do ilustre marido, desmaiava de emoção em muitos dos eventos de que participava. E Cartola cantou amor passado em “Tive, sim” e no fim da música afirmou, vejam acima, que não fazia comparações, pois não queria magoar a atual detentora do seu coração. Entre linhas está que seu amor pregresso fora mais marcante e profundo? Verdade, ou apenas poesia? A crônica além da pergunta, talvez despropositada, vale para recomendar ao menos três músicas de Cartola, segundo a lenda resgatado em bendita hora do anonimato e pobreza por Sérgio Porto, o alegre Stanislaw Ponte Preta. Entre muitas lindas canções destaco “Tive sim”, “As rosas não falam” e “O mundo é um moinho”. De fato é moinho e como mói!
 

(08 de novembro/2013)
CooJornal nº 865



Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
pdaf35@gmail.com
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