16/08/2013
Ano 16 - Número 853


 

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PEDRO FRANCO

 


 

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Pedro Franco



Dê a mão a ele

Pedro Franco - CooJornal

Nem sei o nome dos meus personagens. Um homem, uma criança e um ursinho de pelúcia. Parara o automóvel no sinal e atravessaram na frente meus três personagens, os dois no colo do pai, que pousou-os no chão ao chegarem à outra calçada. - Me dê a mão. Pediu o pai. - Dá a mão a ele. Disse a menina, que devia ter seus cinco anos. E lá se foram o homem alto, segurando sem jeito o braço do ursinho, o ursinho e a menina com o outro braço. O ursinho era alguém para aquela menina, que ia provavelmente para a escola, ou para a creche, já que não vi pasta, ou mochila. O que sei eu deles? Sei que cada criança tem seu mundo de fantasia e encantamento, criado muitas vezes para encobrir, ou melhorar, o mundo em que vive. Um mundo que os adultos na maioria das vezes não entendem, ou pior, atropelam e atrapalham. E vou falar em descasamentos onde há filhos. A criança tinha uma casa, um mundo aparentemente seguro, com pai e mãe e que de repente acaba e muitas vezes com tumulto. Desencadeiam guerra e a criança é levada a participar. Esta desesperadora ocorrência desenvolve-se na época da formação, onde a vida devia ser risonha e franca. Cedo enfrenta problemas para os quais não está preparada, ou ao menos entender. Há casais que colocam a criança na luta, fazendo-a participar daquele processo, do novo casamento, das novas relações e relacionamentos, sem os cuidados devidos e sem entender que, de uma forma ou outra, o mundo daquela criança foi quebrado. Não, não sou daqueles que julgam que o casamento deve ser indissolúvel. Seja eterno enquanto dure, como pensava o poeta, em relação ao amor. Só que se não durar, que se respeite ao máximo os sentimentos, as fantasias, a saúde mental da criança e em todas as situações. E não se julgue que com bens materiais e cursos, substitui-se um lar. E antes de terem filhos os futuros pais devem ter o casamento como um acontecimento estável, não um impulso fugaz. Se contarem com a possibilidade de descasamento, esperem e não tenham filhos. Filhos não seguram casamentos. Um casamento é um ato, ter um filho é um ato muito mais importante. Se em última instância a separação se impuser e há filhos, que o rompimento seja realizado sem a participação ativa da criança, que não sabe dividir lealdade. Uma criança é uma enorme responsabilidade por toda a vida para os pais e que merece os maiores esforços de toda uma família, em qualquer circunstância. Males infligidos nos primeiros anos são muitas vezes irrecuperáveis. Irrecuperáveis perante toda a vida daquele ser, que foi gerado por alguém, que o feriu muito, às vezes sem ao menos perceber, por estouvamento, desatenção, irreflexão, ou mesmo desamor. Cuidado pais, avós, tios, padrinhos, amigos! No descasamento e mesmo no casamento o principal, o essencial, é a criança, seu mundo e suas emoções. Se há uma rotura, que seja o menos traumática possível. Por que me vieram estas idéias, quando passaram a criança, o ursinho e o homem? Porque vi o homem e principalmente a criança com fisionomias tristes, especialmente quando ela disse: - Dê mão a ele.


(16 de agosto/2013)
CooJornal nº 853



Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
pdaf35@gmail.com
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