22/03/2013
Ano 16 - Número 832

 

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PEDRO FRANCO

 


 

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Pedro Franco


Frases Que Não Disse
(mas tive vontade de dizer)

 

Pedro Franco - CooJornal

Em consultório:
- Este remédio vai me fazer bem mesmo, Dr.?
- Não, vai lhe fazer mal. Estou receitando apenas para dar dinheiro ao moço da farmácia.

- O Doutor, acha que precisa mesmo fazer este eletrocardiograma? Olha que há dois meses fiz outro (pergunta de uma “coronariopata”, com dor precordial).
- Não há necessidade, mas quero engordar a consulta com o preço do exame.

- Doutor, eu não queria incomodá-lo. Esta dor na barriga da perna começou depois do café manhã, arrastou-se pelo dia todo. Ela não aumentou, mas agora fiquei preocupado. Será que é grave? (são duas horas da madrugada, faz frio e eu acabara de conciliar o sono).
- Sei lá! Por que o Sr. passou o dia inteiro com a dor e só me telefona pela madrugada? Para não me incomodar?

- Aquela pulvuleta amarelhinha, que o Dr. me receitou, há três meses, acho que está me fazendo mal. Será ela ou a verdinha? (pelo telefone e para a residência).
- Acho que é a pulvuletinha roxinha que está fazendo mal (e desligaria o telefone).

- Aquele meu tio, que mora em Manaus e tem oitenta e sete anos, teve um problema hepático e eu quero ouvir sua opinião, antes de lhe falar sobre minha dor no peito. (nunca examinei o tio, nem sabia que ele existia, sou cardiologista e estou no Rio de Janeiro)
- Um momento, minha Senhora, vou apanhar minha bola de cristal!

- Já passei por outros cinco médicos do convênio e todos dizem a mesma coisa. Mas quero mais uma opinião.
- Nem preciso examiná-la, assino embaixo do que meus colegas disseram. Assim a Sra. ganha tempo, para procurar o sétimo médico do convênio e nem tem necessidade de assinar a guia de consulta.

Consultório cheio. Abro a porta, que dá na sala de espera. São dezoito horas. A atendente avisara-me que Madame Azambuja queria me dar uma palavrinha.
- Dr., minha consulta de rotina está marcada para amanhã, às duas horas. Estou bem, mas aproveitei vir à Praça e passei por aqui. Dá para o Sr. me atender?
- Não, Madame Azambuja! Dona Argemira, entre por favor, está na sua hora e vez.

- Dr., estou passando mal, mas não sei o que sinto. Não adianta tentar saber o que sinto. Só sei que estou passando mal.
- Compre então um ferro novo. É a única solução.

Na vida:
 - $&*$#@*$&^%$#@$$*&+$. Os sinais representam as frases, que ouvi e não respondi, vindas de um parente, ou amigo. Há que se preservar afetos, amizades, ainda que a custa do não dizer. Muitas vezes não responder denota mais sabedoria e fraternidade que dar a resposta, ainda que esta fosse oportuna e merecida.

E no amor?
 No amor, o sentimento mais necessário e complicado, não sei.


(22 de março/2013)
CooJornal nº 832



Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
pdaf35@gmail.com
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