24/08/2012
Ano 16 - Número 801

 

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PEDRO FRANCO

 

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Pedro Franco


Perseguido por Fanny Ardant
 

Pedro Franco - CooJornal

Certas crônicas tem que ter a etiqueta do quando. O quando é maio de 2005. Um maio atípico, quente e só quando chegamos no 21/22, sábado/domingo, choveu e veio um ar mais frio. Antes calor. Agora chuva. Chuva, em casa também no sábado e fui buscar um DVD, para ajudar a passar o tempo, que nos cinemas os filmes estavam pobres, ainda que com muitos efeitos especiais. Fanny Ardant em Nathalie X. Fumando muito, como em filme anterior, que fez com outras atrizes (Oito Mulheres). Neste anterior também fumava muito. Sou pessoal e profissionalmente contra o fumo. Há que reconhecer ao menos que Fanny fuma bem, com classe, classe que põe em tudo que faz, até em filme sem muito pé ou cabeça, com Gérard Depardieu e Emmanuelle Beart, onde o ator, bom ator, ainda que nem sempre escolha bem papéis, é chamado de bonito. Bonito? Em “Dupla Confusão” esteve ótimo. Voltemos à Fanny Ardant. Tive que rachar um conceito. Neste início de século XXI para meu gosto a artista mais bonita do cinema é Mônica Bellucci. Vejam o filme Malèna, por exemplo. Rachei o conceito, pois vou colocar ao seu lado Fanny Ardant. E eu e minha mulher no mesmo domingo, onde devolvemos Nathalie X, escolhemos outro filme, um bom filme, passado despercebido, Clube do Imperador com Kevin Kline, como há Kevins agora no cinema! E deixamos já escolhido filme para outro fim de semana, que esteja vazio também em bons Espetáculos. Não vimos no cinema e ficou para DVD, “Callas Forever”, com Fanny Ardant. Oxalá Maria Callas não fume. (dias depois de digitada esta crônica, vi “Callas Forever”, ótimas interpretações de Fanny Ardant e Jeremy Irons e o filme passou com menos destaque do que merecia. Maria Callas/Fanny Ardant aparece fumando!). Abro hoje o O Globo e no Segundo Caderno, uma foto de Cannes com Fanny Ardant. De noite, zapeava na TV e vem um trecho da vida de Balzac. Balzac-Depardieu, mais Jeanne Moreau, Virna Lisi e ... Fanny Ardant. Daí o estapafúrdio título da crônica. E estou reclamando? Não, constatando e com prazer. Minha mulher vai achar um sacrilégio, mas Fanny, vejam que me faço íntimo, tem algo da Ava Gardner e com mais charme, ainda que com menos beleza total, reconheço. E no passado, que artistas perseguiram-me no bom sentido, ótimo sentido: Lizabeth Scott, filmes policiais de segunda categoria com Wendel Corey, quem se lembra?, Lolla Albright, noiva do Peter Gun na série da TV, Gina Lollobrigida e Jean Seberg. Uma morena e três louras, ainda que prefira em geral morenas, por paradoxal que pareça. Só quatro? Não houve outras artistas preferidas? Outras e outras, mas estas quatro eram, digamos, as mais emblemáticas. Portanto no momento estou com Fanny Ardant e não abro. E, os que me conhecem bem, pensarão, tipo da crônica para uso externo, para inglês ver. Marido fiel, muito bem casado há cinquenta e quatro anos, agora setuagenário, pondo as manguinhas de fora! Virou “old dirty man”? De antemão respondo, velho, muito bem casado, satisfeito com o casamento, muito preocupado quando um de nós se for etc, não cego. E o que há de belo na natureza, é para ver, comentar, exaltar. A cabeça do bico de lacre; um cavalo árabe, correndo crinas ao vento, pintura de Renoir; livros de Wilde/Simenon/Somerset/Doyle/Lobato etc, mansa vaca holandesa de úberes cheios, olhos ternos, perto de uma porteira, por de sol de maio, maio que se preze, não este de 2005, o Museu Imperial de Petrópolis visto do jardim, rosa chá orvalhada. E Fanny Ardant. Agora, em agosto de 2012, completo a crônica. Não tenho visto Fanny Ardant! Que pena!


(24 de agosto/2012)
CooJornal nº 801



Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
pdaf35@gmail.com
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