20/07/2012
Ano 16 - Número 796


 

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PEDRO FRANCO

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Pedro Franco


 Mário Quintana e ABL
 

Pedro Franco - CooJornal

Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer,
é porque um dos dois é burro.”    Mário Quintana.


Mário Quintana não entrou para a Academia Brasileira de Letras. Vale afirmar que foi candidato por três vezes e derrotado nestas tentativas. Não sou “expert” em ABL e não sei para que literatos o poeta gaúcho perdeu a vaga. Mas conheço a obra de Mário Quintana, para sempre ficar encantado com o que leio. Agora sua literatura entrou na ABL, pelo menos em uma apresentação, tipo homenagem. Ainda bem que as obras do autor não foram barradas, o que já me parece um bom passo inicial para anunciar mudanças.

Sobre o ingresso à ABL, vale ler o “As Excelências” “ou Como Entrar para a Academia” de Guilherme Figueiredo, livro que seria hilário, se não fosse no âmago triste, pois mostra os meandros das eleições para a Academia. E vários escritores já percorreram o filão eleição para a Academia, que é de fato interminável, até por inveja de alguns que não entraram e nem deviam mesmo entrar.

Se Quintana concorreu e concorreu e não conseguiu vestir o fardão, apesar de ter se inscrito e feito campanha ao seu modo, muitos e importantes literatos não se inscreveram. Esta história de pedir, quase mendigar, votos para entrar para uma Academia, seja ela qual for, precisa acabar. Muitos pensarão se os que estão lá pediram, por que outros não seguem a mesma rotina? Por orgulho desmedido? Não, porque a atual rotina é abominável e sem querer colocar uma palavra forte, o pedido pode ser até humilhante, de acordo com a receptividade que o postulante recebe de determinados e vaidosos acadêmicos. Vide de novo o livro de Guilherme Figueiredo, que conta sua odisséia. Pensarão muitos acadêmicos. Se passei pelos dissabores dos pedidos, por que os agora candidatos não devem passar? Porque na vida devemos evitar, se temos grandeza de alma, todas as situações constrangedoras para os outros.

Certa vez um amigo queria entrar para determinada academia literária, que não era a ABL. Foi avisado que o procedimento era pedir voto um a um e que tinha que ser cumprido. A finalidade era não eleger candidatos, que não quisessem depois pertencer à referida academia, optando por um tipo de esnobação. Este amigo escreveu carta ao Presidente da Academia, avisando que, se eleito fosse, ficaria muito honrado em pertencer à mesma. E foi empossado e segue brilhando por lá. Se constasse só o pedido de inscrição, não era nada demais. Há a necessidade da visita pessoal, a cabala de votos, cultuar igrejinhas, dar alguns almoços e presentear cada um com suas obras, que provavelmente já foram lidas, ou nunca serão. Enfim o candidato coloca-se numa posição subserviente perante o acadêmico. E só para exemplos: Mestres Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Érico Veríssimo e a lista seria enorme, nunca se candidataram, ainda que tivessem obras literárias suficientes para sentarem-se na Casa de Machado de Assis com conforto cultural e sem favor nenhum.

A ABL tem abrigado não literatos e políticos, literatos de menor brilho, ao lado de verdadeiras expressões de nossa Literatura, estas em maior número, diga-se, do que os componentes dos dois primeiros grupos. Que tal os acadêmicos de verdadeiro mérito literário, aproveitando os ares do início de século, darem uma escovada nas normas de entrada para a ABL, nas escritas e nas não escritas? Arejarem democrática e humanamente as salas da Casa de Machado de Assis, seguindo novas regras para a escolha dos futuros acadêmicos, levando em consideração apenas o mérito literário. Seria sinal de progresso e até mesmo de purificação. A atual Presidente da ABL, teimo em presidente, Ana Maria Machado, tem cabedal suficiente para iniciar esta campanha e vem procurado levar a ABL ao povo interessado e poderia, quem sabe, até criar uma galeria, onde grandes escritores brasileiros mortos, que não se sentaram na ABL, fossem admitidos pelo valor de sua obra de forma pós-morte. Seria uma forma de redimir o passado, como está tão em moda no País. E será que o poeminha abaixo tem algo a ver com as tentativas do poeta em entrar na Academia? Quem sabe?
       “Poeminha do contra”
       “Todos estes que aí estão
        Atravancando meu caminho,
        Eles passarão...
        Eu passarinho.”
                      Mario Quintana.


(20 de julho/2012)
CooJornal nº 796



Pedro Franco é médico cardiologista,
contista, cronista, autor teatral
pdaf35@gmail.com



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