01/07/2021
Ano 24
Número 1.228





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MILTON XIMENES


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Milton Ximenes Lima

 

 

À amizade luso-brasileira.

Caminhos somente meus...

Milton Ximenes Lima - Colunista, CooJornal

Amália Rodrigues e Francisco José: cantem e recantem “Foi Deus”, a bela melodia de Alberto Janes Fialho, porque quero começar essa crônica com suas primeiras letras: “ Foi Deus que deu luz aos olhos”, adaptando-as para Foi Deus que ME deu luz aos olhos... há muito tempo atrás. Lá, na então modesta Cachoeiro de Itapemirim, ES, meus olhos se abriram e foram captando pessoas e paisagens que povoaram meu caminho. E sobre Portugal eles, pela primeira vez, ao lado dos de cinquenta companheiros de turma do curso primário do Grupo Escolar Graça Guárdia, foram abeberar a mensagem da professora Iracema Monteiro de Souza historiando a “A descoberta do Brasil” pelo português Pedro Álvares Cabral em 22 de abril de 1500. E, continuando, a Independência pátria através do Imperador D. Pedro I, filho de Queluz, e a vida do Imperador que mais amou o Brasil, D. Pedro II, seu filho. Nesta mesma época fui coroinha na Igreja Matriz (hoje, Senhor dos Passos), e me extasiei com a milagrosa história da Senhora de Fátima e os três pequenos pastores. Aliás, o Imperador concedeu o título de Barão de Itapemirim (ES) a Joaquim Marcelino da Silva Lima, e este Lima perseguiu a minha família (lado paterno). Vim, depois, a frequentar os cursos ginasial e científico do Colégio... PEDRO II, Internato, no Rio de Janeiro, celeiro de excelentes mestres: mais me clarearam sobre detalhes da vinda da família real portuguesa. Neste colégio, segundo ano ginasial, aos 12 anos, embora gostando da matéria, Português, um trauma meu e de mais 23 colegas: fazer análise sintática em cima dos textos dos Lusíadas, principalmente em provas, o que nos levou a reforçar o conhecimento linguístico, enquanto “elogiávamos” zombeteiramente o jovem professor e sua família. “Nem às paredes confesso” as palavras que usamos! (Licença, compositor Ferrer Trindade). Nesta fase, convivi, sob mesmo teto, com o Raul, tio, de família de descendência lusa, os Castiços. Boa gente! Foi ele, flamenguista, que me conduziu ao estádio Maracanã, onde torci pelo time da camisa da cruz de malta, o Clube de Regatas Vasco da Gama, que atravessava então fase áurea, base que fora da seleção (azarada) brasileira de 1950. Ele era também sócio do Clube Ginástico Português. Ao lado da sua casa, em Vila Isabel, onde eu era hóspede, veio residir uma família de Campos de Goytacazes RJ, trazendo uma mocinha portuguesa. Bem que minha tia-avó se esforçou, mas nosso namoro não engatou. Interessante: os cabelos dela eram claros, quase loiros, característica um tanto diferente dos de suas patrícias. Terminado meu curso de Direito, o primeiro escritório que me acolheu era propriedade de descendente direto, o Dr. José da Silva Rocha, ex-presidente do Clube de Regatas Vasco da Gama. Já bem iniciada minha vida profissional, também eu e minha mulher, depois mais gente da família, passamos a frequentar o Real Clube Ginástico Português, bem próximo do outro meu local de trabalho, a Caixa Econômica Federal. Nos almoços do seu restaurante público, ficava, então, testemunhando a responsável atividade dos seus empregados nos respectivos desempenhos, possível reflexo, naturalmente, da seriedade da Diretoria. Participei das aulas de Educação Física, das sessões semanais de cinema, dos bailes mensais dos aniversariantes, onde cantores famosos se apresentavam. Ganhei, certa vez, uma premiação literária. E tinha mais: em pleno centro tumultuado da cidade, nos oferecia, no teto do edifício-sede, na Avenida Graça Aranha, magnífica piscina! E, depois disto, aconteceu o que jamais pensaria: voltar aos estudos camonianos, “dissecando” “Os Luzíadas” em reuniões semanais, comandadas pelo professor de Letras Clássicas José de Paiva Carrão, e a companhia dos “alunos”, permanentes e temporários: Marco Antonio, Jane Freitas, José Francisco, Celene, Profa.Jane, Jeanine, Thais, Maysa, Luiz Roberto, Ana Luiza, Denise, Beth. Maria do Carmo, Valéria, Pedro Henrique, Tony Correia... Os estudos começaram em 2003 e se encerraram em 2017, e nestes 14 anos nos revelaram a beleza literária da epopeia camoniana. Foram apostilados, mas não se conseguiu editoração. E, cá entre nós, enterraram meu antigo trauma do ginasial!

Contando essas passagens de vida, apenas procuro dimensionar que tratados e leis podem, sim, estreitar relações entre dois países, principalmente se têm laços históricos, mas o crescente convívio com pessoas, atos e fatos dessas nações é que farão frutificar simpatias mútuas, autênticas irmandades de sangue.

Só me resta agora embarcar numa nova nau-capitânea e conhecer pessoalmente “Lisboa, velha cidade, cheia de encanto e beleza, sempre a sorrir tão formosa” (Raul Portela), onde, tenho certeza, como em todo Portugal, “se à porta humildemente bate alguém, senta-se à mesa com a gente” (Uma casa portuguesa, de Artur Fonseca). Sem me esquecer da universitária Coimbra, da qual nos é alertado que “um livro é uma mulher”, e “só passa quem souber...”! (Raul Ferrão).

Descobri enfim, recentemente, que minha admiração por Portugal pode estar também no sangue, eis que os sobrenomes Ximenes e Lima foram assumidos por alguns cristãos novos de Portugal, muitos dos quais emigrados para o Brasil.

E paro por aqui, porque o original deste tem que ser entregue o mais breve possível ao Professor Antonio de Oliveira Pereira, lá no Núcleo de Literatura e Artes Plásticas da Casa das Beiras do Rio de Janeiro, para publicação em antologia anual, e festejando a amizade luso-brasileira.

Em tempo: ela foi distribuída nos últimos dias de maio...

Comentários podem ser enviados diretamente ao autor no email miltonxili@hotmail.com





Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ

Email: miltonxili@hotmail.com
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