01/05/2021
Ano 24 - Número 1.220






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MILTON XIMENES


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Milton Ximenes Lima

 

 

CARTA DE MACEIÓ

Milton Ximenes Lima - Colunista, CooJornal


Milton, amigo e ex- vizinho:

Já que estão proibindo o “presencial”, resta acomodar-me num canto, meio escondido, para não ser penalizado com uma “coroa” ação...

Não quero transformá-lo, meu caro, no meu “muro das lamentações”, apenas lhe dizer que estou... sobrevivendo, apesar dos novos ares, ou melhor, apesar dos pesares!

Antes mesmo da “assassina” me surpreender, chegou-me um prévio castigo: deixaram de funcionar o meu olfato e o meu paladar! Que tristeza, amigo, usufruir de uma feijoada ou um bacalhau que tanto aprecio... sem gosto nenhum! O paladar “doce” é que permaneceu, mas o salgado se limitou a uma faixa central da língua.

O oncologista examinou toda a boca e a língua, e apesar da ardência que sentia em determinados pontos, isto não se referia a qualquer ferimento, parecendo-me ser algum atrito com os dentes de uma primeira prótese, mas tive que me submeter às biópsias das parótidas e carótidas, lado direito do rosto. Ato meio dolorido, mas nada de grave foi detectado. Graças!

E a boca... seca, sem saliva, meu caro!

Curioso, fui ao Google: o que seria isto? A síndrome de SJorgren? Huumm... Doença auto-imune, com securas nos olhos e na boca?

Foi-me receitada saliva artificial... Isto não tem cura – dizem-me... Alguns medicamentos a mais me foram indicados...

Visita do cardiologista e clínico geral em 10.08.2020, aqui em casa: após exames gerais e eletro, sugeriu exame de sangue “total”. Veio, entre os resultados, a notícia boa: deu negativo para o “covid!” Brinco mentalmente: “Que bom, não é meu “co-nvid”ado! “
Tenho ainda fisioterapia, às segundas, quartas e sextas-feiras; psicólogo, junto com a mulher, nas tardes das sextas: são convívios salutares, terapêuticos para músculos e mentes! Em meio a isso, desequilíbrios inesperados, tonteiras, uma só queda, sem consequências, na escada da entrada do prédio. Uma vez só, mas que levou a mulher e o terapeuta a vigiarem meus passos na rua. Além disto, ficaram me “ameaçando” com as possibilidades de agressões por parte de menores desocupados e amigos do alheio, e similares, porque hoje estou caminhando mais lentamente, fácil, fácil de ser deslocado, empurrado! Devolvo esses temores com um caminhar mais firme e sendo, mesmo assim, criticado, tenho vontade de libertar minha coletânea de palavrões... à baixa e média voz!

E entre estes acontecimentos vou “escrevinhando” um pouco, e me distraindo, também, com colóquios em e.mails. A família tem pouco se reunido, mas me parece que está programando algo natalino. Aguardo... as aglomerações humanas estão sendo desestimuladas, e até mesmo proibidas!

Enfim, estamos todos, amigo, “sentados à beira do caminho”, pensando se, neste ritmo de vida... ainda realmente “existimos”, e que precisamos, com urgência, “acabar logo com isto”... como há muito nos avisam os famosos compositores e cantores Roberto e

Erasmo Carlos, muito perspicazes com as emoções de cada um de nós...

Quosque tandem?

Presumimos, mas não sabemos: o mal, invisível, continua brincando mortalmente com nossos destinos! Cada esquina do viver é um mistério a sobreviver...

Abração e saúde, extensivos para a sua Ângela!

Recomende-me, enfim, ao Deus de todos nós!

Assinado:

Genuino.
Em tempo, amigo: como está o Quequé?
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A esclarecer: instado por problemas familiares, Genuino teve, depois de alugar o seu apartamento, que retornar a Maceió, terra natal. Era pessoa de papo excelente, cultura vasta, sem alardes E, em certos momentos, rabiscava suas ideias literárias e suas cartas. Deixou-me uma lembrança simpática e “suavemente” barulhenta, que, no momento, está acomodado na grande gaiola rotativa, lá na sala: o seu então papagaio, o Quequé, de quem eu já era grande admirador, principalmente quando deixado lá em casa pelo seu “dono”, ao se ausentar, ou mesmo viajar...

Quequé, a colorida ave! Inquieta, provocadora... roedora de tudo que está ao alcance do seu forte bico, mas que ainda não agregara ao seu vocabulário sonoros e arrepiantes palavrões, como retratam algumas piadas. Brinco, sorrindo para ninguém, apenas energizo meus pensamentos: - Tô esperando isto não, louro, porque você está em uma “casa de família” e não em bares e botequins repletos de desbocados frequentadores...

- Não é, louro?

Ele me oferece um dos pés, segura meu dedo indicador, abaixa a cabeça, e espera um gostoso e demorado cafuné...

 

Comentários podem ser enviados diretamente ao autor no email miltonxili@hotmail.com





Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ

Email: miltonxili@hotmail.com
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