16/11/2020
Ano 24 - Número 1.197



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MILTON XIMENES

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Milton Ximenes Lima


Eu fui do tempo (VI) – Cachoeiro

Milton Ximenes Lima - Colunista, CooJornal

... em que, nas ruas da infância, desfilava a figura do grande e andante Tenerá, vestido tal qual um cangaceiro, acompanhado dos seus cachorros, e que apregoava, com seu megafone, nomes e promoções de algumas lojas, tornando-se, a meu ver, pioneiro veículo de propaganda da cidade; em que aquele sorveteiro, o “seu” Eduardo, vindo lá do bairro Coronel Borges, arrastava sua carrocinha e apregoava: “Olha o sorvete e o picolé!”, e a quem as crianças, escondidas nas casas e nos quintais, completavam com um “É de leite de mulher!”; em que, durante certo tempo, carroças médias abrigavam leite e o vendia (Selita), com medidor de vidro, pelas ruas (Sr. Nestor?); outras carregavam restos de madeira provindos das serrarias, endereçadas aos possuidores de, naturalmente, fogão à lenha; em que a Rádio Cachoeiro (“De Cachoeiro para o mundo” teimosamente isto repetia) tinha um programa diário chamado “Às suas ordens”, em que as pessoas, com dedicatórias previamente escolhidas, se ofereciam músicas, principalmente nos aniversários e nos namoros à distância; em que, num programa matinal de perguntas e respostas, muitos brindes eram distribuídos pela firma SOMEX: minha irmã, MJ, saiu de lá abraçada com um conjunto de “long- plays”; que também aos domingos, pela manhã, o jovem Roberto Carlos exibia seu promissor gogó nas músicas, entre outras, “Olinda, cidade eterna” e “A fonte a correr, chuê, chuá...”(não me lembro do título); em que algumas pessoas viram o mesmo Roberto, mesmo com seu problema físico, dominando e conduzindo uma bicicleta; em que as meninas dividiam suas simpatias e antipatias radiofônicas entre as vozes das cantoras de rádio carioca Emilinha e da Marlene; em que a dupla Jararaca e Ratinho tinha sucesso com suas músicas sertanejas; em que Vicente Celestino era nosso amado tenor; em que “estourou” no Brasil a guarânia Índia, cantada pela dupla Cascatinha e Inãna; em que a novela cubana “O Direito de Nascer”, lá pela década de 50, era a cachaça auditiva noturna dos brasileiros; em que a nossa moeda (réis) era muito valorizada, a ponto de servir de troco nos óbolos doados à igreja (em saquinhos); em que as famílias, em momentos vespertinos, traziam suas cadeiras para a frente das suas residências e iniciavam longos e tranquilos papos, enquanto os filhos brincavam livremente pelas imediações; em que, pelas janelas da Escola de Comércio, ao nível da rua Vinte e Cinco de Março, a gente se deparava sempre com os famosos e queridos educadores Alfredo e Aurora Herkenhoff; em que, sacudidos por notícias alvissareiras, partiram de Cachoeiro veículos e caravanas com destino a Urucânia, Minas Gerais, onde o Padre Antonio maravilhava a todos com seus milagres.
 

Comentários podem ser enviados diretamente ao autor no email miltonxili@hotmail.com





Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ

Email: miltonxili@hotmail.com
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