16/07/2020
Ano 23 - Número 1.181



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MILTON XIMENES

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Milton Ximenes Lima


“Eu fui do tempo”: CACHOEIRO

Milton Ximenes Lima - Colunista, CooJornal

...em que, quando arrebentava a “fita” do filme projetado no Cine Central, os espectadores vaiavam, batiam os pés, forçavam as fechaduras das janelas que se abriam sobre o rio Itapemirim... até que se providenciasse uma nova emenda no celuloide; em que, antes da projeção do filme, tínhamos que acompanhar o noticiário do Jornal da Tela, os “traillers” (chamados então de “reclames”) dos próximos filmes, os inevitáveis desenhos do invencível ratinho voador “Possante, o bramante”, e, depois do filme, os seriados dos espertos heróis da época: Fantasma, Zorro, Tarzan e outros que já não me lembro; em que o Cine Santo Antonio, lá no bairro do Guandu, se especializava na exibição de faroestes, aqueles em que o mocinho muito cavalgava, atirava, brigava, brigava, e o chapéu não lhe caía da cabeça... ( Roy Rogers, Buck Jones e outros); em que, aqui no Brasil, montado no seu garboso alazão, chapelão à cabeça, Bob Nelson cantava suas histórias de vacarias; em que, nas enchentes do rio Itapemirim, os mais corajosos se lançavam desafiadoramente às águas, saltando da Ponte Municipal, enquanto remadores também se posicionavam em canoas esportivas (do Yole Clube) ao embalo e sufoco das perigosas correntes d´água; em que, só então, a enorme piscina do Liceu Muniz Freire (e Grupo Escolar Graça Guárdia) finalmente se enchia de águas provindas do cano que normalmente deveria, ao contrário, as descarregar no rio Itapemirim; em que a gente acompanhava a evolução e a involução das enchentes nos quintais das nossas casas à margem, fincando, à noite, pedaços de madeira que prometiam, no dia seguinte, com suas marcas líquidas, criar expectativas de medos e alívios; em que a gente acompanhava as caçambas se movimentando sobre os morros do norte, penduradas em cabos de aço sustentados por torres, levando calcário para a Fábrica de Cimento Barbará, lá na rua Moreira, início do bairro Coronel Borges; em que, ao mesmo tempo, se sentia, vez em quando, tremer nossa casa, lá na rua D. Fernando 63, quando o comboio ferroviário passava por detrás do nosso quintal, levando mercadorias e materiais para a mesma Fábrica ; em que se assistia aos jogos noturnos de basquete na quadra da Fábrica de Cimento “Barbará”, no mesmo local; em que se viu (eu vi), lá da descida da rua D. Joana, lado sul da cidade, um zepelin cruzando nossos céus; em que as boiadas trafegavam por nossas ruas sob a vigilância de valentes cavaleiros (o que não me impediu de assistir, certa vez, na rua Moreira, ao pânico de uma procissão religiosa que com elas se enfileirou); em que, em Vargem Alta, se instalou uma sericultura, com produção de casulos e controle das lagartas (bicho da seda); em que o lazer das famílias aos domingos era concentrado na Ilha da Luz, com seu parque protegido por muitíssimas árvores e com suas piscinas de águas correntes fluviais, naturais e artificiais; em que, para se chegar nela, se atravessava uma precária ponte de madeira que nos fazia medo ao verificar, abaixo dos nossos pés, entre os madeirames que a forravam, as ameaçadoras águas do rio.

Comentários podem ser enviados diretamente ao autor no email miltonxili@hotmail.com





Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ

Email: miltonxili@hotmail.com
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