01/03/2020
Ano 23 - Número 1.163



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MILTON XIMENES

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Milton Ximenes Lima



FUNDO DE GAVETA

VISITANDO VELHOS AMIGOS

Milton Ximenes Lima - Colunista, CooJornal

Finalmente resolveram atender aos insistentes convites da colega de bancos universitários.

Tratava-se de reavivar um tempo de muitos estudos, conversas políticas e artísticas, e fatos da convivência daquele tempo. Precisavam, então, se trajarem convenientemente para a visita. Principalmente ela, que fora amiga íntima da anfitriã, enquanto o marido curtira curso diverso delas. A última que soubera: a amiga se casara com um crítico de artes de um poderoso matutino, estava bem posto financeiramente. Enquanto ela era louríssima, ele era afrodescendente.

- Será que devemos ir lanchados? – perguntou ao marido.

- Falta de educação, mulher... a gente aparece lá com a barriga cheia, e, ainda por cima, se desculpando depois!

- E a roupa? Parece que vai ser uma grande recepção, não podemos destoar! E vamos logo com isto, que o apartamento deles fica na zona sul!

Lá chegaram pouco mais de meia hora depois. Porta aberta, pitoresco ambiente, naquele quarto-e-sala, a que os seus moradores faziam questão de explicar a decoração.

Logo na entrada, um bar-mesinha, autêntico, de botequim, por ele tinham pago um bom dinheiro! Não existiam cadeiras, só alguns pufes e uns banquinhos de madeira. Toalha de mesa estendida pelo chão, rodeada por muitas almofadas, onde os convivas se acomodavam. No quarto, a cama sem pés, disposta diretamente no chão. Um pequeno armário, ao lado, gavetas aparecendo, com desarrumado conteúdo. Entre a “sala” e o “quarto”, postada talvez simbolicamente, como se avisasse que ali deveria ter sido construída uma parede, uma escada de dois lados suja de tinta e pó, e, em cada degrau, uma multidão de bibelôs e outros artesanatos de madeira.

O dono da casa ofereceu uísque, trouxe da “cozinha“ uma garrafa já aberta e meio “bebida”. Mais de onze da noite, desceu, à procura de um bar salvador. Veio com cervejas e, num embrulhado pacote, microscópicos salgadinhos. Enquanto isto, esquentava o ambiente com assuntos que variavam entre artes plásticas e cinemas de arte.

Hora chegou que perceberam que a animação começou a subir, os casais se prodigalizando em intimidades, com possibilidades até de troca de parceiros. Sentiram-se desligados, arranjaram diplomáticas desculpas - os filhos pequenos -, saíram sem falar com os demais visitantes.

A fome era muita. Em casa, no que puderam, esvaziaram a geladeira. Então, o marido comentou:

- Todo mundo desalinhado e nós num chiquê de fazer gosto!

- Pior que isso - obervou a mulher -, estou ainda por descobrir como, com tanto amor ao belo e às artes, não tinham uma jarra disponível para colocar as belas rosas com que os presenteamos... Ficaram lá abandonadas na pia, ao lado dos restos da comida!

 

Comentários podem ser enviados diretamente ao autor no email miltonxili@hotmail.com





Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ

Email: miltonxili@hotmail.com
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