16/10/2019
Ano 22 - Número 1.145



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MILTON XIMENES

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Milton Ximenes Lima



O Sábio de Conceição de Piancó

Milton Ximenes Lima - Colunista, CooJornal

“Sofro por sentir que os maus ventos/liberam desestimas e desgostos/e acabam afugentando as cores belas,/de cada ser fazendo um espantalho//...” (Poesias Reunidas)// “O gênio é aquele que pode ser mil sem deixar de ser um na sua espécie”.// “Não ter amigos é se estar fora do coração da espécie” // “ O horrível da amizade desfeita é a gente nunca esquecer quem a rompeu”// “A saudade, já disse, é a paciência dos amorosos”//”Como se ter saudade de um livro? Tenho-as.”//”A eternidade é feita de momentos. O momento é feito de instantes”/(Terceiro céu).// “Atrás do rebanho, os poetas. São eles os pastores das palavras.”// “Escritor que me obrigue a ir a dicionário, para mim é escritor condenado. Não o leio. (A velha chama)//.


O Sábio de Conceição de Piancó

escreveu 51 livros, prosa e verso. Esteve, entre nós, de 21.06.1915 a 13.06.2010. Sob meus olhos estiveram Euismos (em2001), Caracóis na Praia (2001), Poesia Reunida (2001), Vulgata (2001), O Princípio das Penas (2002), O Terceiro Céu (2003), À Flor da Terra (2003), Aforismos da Precisão (2003), O Jogo das Ilusões (2004), Loas a Chile (2004), Os pesares (2004), Poesia ou Morte (2006), Na Ciência dos Fatos (2007), todos oferecidos pelo Autor; O Velho do Leblon (2006) e A Velha Chama (2007), adquiridos. Funcionário do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, escreveu no Jornal do Commércio e no Diário Carioca. Ficaram famosos seus “Jornais Literários”, no qual, entre outros fatos, cultivou análises de si mesmo e narrou sua convivência com muitos escritores da sua época. (Há um índice onomástico de seis páginas, ao final de “A velha chama”). Da listagem bibliográfica acima, Caracóis na Praia, Euismos e Terceiro Céu compuseram os referidos Jornais. Tudo escrevia em estilo simples, accessível. Era muito sincero em seus comentários, o que desagradava a determinados escritores. Católico, não perdia uma missa dominical ou festiva. Para quem for curioso, interessante é saber das revelações sobre manias comportamentais de muitos escritores famosos. Assistiu a muitos velórios. Em certos momentos, reconhecia-se (à época): “Decididamente, não sou dos que agradam, dos que impressionam prontamente as pessoas”... ”Por quê? Por minha culpa, minha falta de maneiras, meus modos bruscos de falar, meu sarcasmo constante” (A Velha Chama, pg. 152). Foi um dos defensores da vitoriosa candidatura do conterrâneo José Américo de Almeida à Academia Brasileira de Letras. Na pg.161 de “A velha chama” confessa: “Essa candidatura acadêmica do José Américo: é claro que estou vivamente a empenhar-me pelo sucesso da ideia. Porém, no íntimo, bem no íntimo, não sinto o menor entusiasmo pela glória acadêmica. Não a aprovo nem a desaprovo. Curei-me a tempo da cegueira que um dia me levou a tatear em busca do seu brilho. Para mim, ela existe. E é só. Existe como certos monumentos: os bustos, as estátuas, os “in memoriam”, fazendo parte dos usos e costumes, das grandezas e desastres de uma sociedade, de um povo. É uma glória a que não aspiro, que me não assenta de modo algum, que seria como uma roupa em que eu me sentisse apertado mas que nos outros me parece perfeitamente explicável e natural, correta e até bonita”. Por falar na Academia, Austregésilo de Athayde, então Presidente, insinuou, certa vez: - “(A Academia) Vai ótima. Esperando por você. Mais dia, menos dia, você estará lá, será um dos nossos.” Pus-me a rir. Eu sei melhor do que ele que isso não é verdade. Ninguém me conhece lá. Não teria sequer o voto dele. Dessa maneira, a cortesia não me causou a mínima sensação”(A Velha Chama, pg.228).

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Não sei quando o paraibano Ascendino Leite se esbarrou com um trabalho meu: se em jornais literários, em antologias de concursos, ou se meu poetaamigo Luiz Fernandes da Silva, de João Pessoa, editor do Correio de Poesia, lhe mostrou algum. Verdade é que, inesperadamente, recebi “Euismos”, com um recado: “A Milton X Lima, com apreço intelectual, gostaria que me lesse nestas velhas cismas. Cordialmente Ascendino Leite, 01.02.2001” Em 26.03.2001, remeti-lhe meu livro de poesias Cantos dos meus silêncios, e, em 28.10.01, uma carta sobre o livro que ele me mandara. Quando recebi “Caracóis na Praia”, sua dedicatória muito me afagou o literário coração: “Caro Milton Ximenes, gostei bastante dos “Cantos dos meus (seus) silêncios” que li com o maior prazer. E uma certa surpresa também. Tudo bem fora do facilitário poético que avassala o país ultimamente. Seus poemas têm a vibração e o acerto paradigmático da obra centrada no vigor clássico da verdadeira construção do pathos poético. Uma poesia acionada pelo sentimento criativo, pela leveza de expressão, pelo gosto sutil da palavra. Uma poesia leve e afinada com a solidão, por isso mesmo corajosa. Parabéns. Receba estas cismas do meu tempo mais recente. Queira-me bem. Cordialmente, o Ascendino Leite, 30.03.01”. Aliás, em 2003 este mesmo livro me alegrou com uma Menção Especial – Premio Lacyr Schetttino para Livros de Poesias, concedido pela Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais (BH). Enquanto isto, remeti-lhe cartas nas quais eu sempre comentava os livros que ele me endereçava. E aí Ascendino me surpreendeu novamente. Publicou cartas minhas nas “orelhas” do “O Jogo das Ilusões”, como posfácio de “Na ciência dos fatos” (quatro páginas), e como prefácio, sob o título de “Diversidades Filosóficas” (10 páginas), em Loas a Chile (2004/2005). Ascendino recebeu do Pen Clube, em 18/06/1984, o Prêmio Joaquim Nabuco de Memórias, e foi ocupante da Cadeira nº 8 da Academia Paraibana de Letras (Patrono: Afonso Campos).

Enfim, a razão desta minha justa homenagem: quando ocorrem na minha vida estas “ajudas” inesperadas, não me esqueço de lembrar uma verdade que arquivei em meus sentimentos: “Ninguém cruza nosso caminho por acaso, e nós não entramos na vida de alguém sem nenhuma razão”.

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Em tempo, recado para meus conterrâneos (Espírito Santo): Ascendino conheceu Rubem Braga pela primeira vez, e a muitos outros intelectuais, na casa de Álvaro Moreira, em Copacabana, em torno de uma feijoada. Lia suas crônicas. Assim nos atestam duas passagens do livro “O Velho do Leblon” (Livraria e Editora Cátedra, 1988): Pg.168: “Frase de Rubem Braga encerrando sua crônica semanal, ontem, num jornal paulista: “- Eu sempre fui uma besta.” Isso acontece aos melhores espíritos, em qualquer país ou literatura. Mas... para que tanta autodepreciação? Sobretudo não sendo bem assim nem a merecendo?”/Pág.265:  Dedicatórias no “Sol a Sol Nordestino”, uma delas a Rubem Braga, poeta, que vive só, numa cobertura de Ipanema, cercado de plantas, como num jardim suspenso. Trata-as melhor que ao gênero humano. Certas pessoas, evidentemente, ao que se diz; ele, incrédulo do anímico, prefere o gênio potencial das coisas naturais.” – Honra lhe vem, e ventura, quando trata do seu jardinzinho – disse-lhe, arrimado num verso de Goethe... Enfeitava-se este de galas cênicas. Exclamava: - Grande e belo é o mundo; mas oh como ao céu agradeço, - por ter um jardim pequenino, bonito e meu próprio! ”Datei e assinei. Um pouco orgulhoso de minha engenhosidade, fugindo ao lugar comum dos ofertórios proverbiais”.


 

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Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ

Email: miltonxili@hotmail.com
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