07/12/2012
Ano 16 - Número 817

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MILTON XIMENES

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Milton Ximenes Lima


“Caixistórias”

MACACOS E HOMENS: IMPRESSÕES DIGITAIS

 

Milton Ximenes Lima - Colunista, CooJornal

Em tempos que já se perderam na lembrança, imagine você passeando pelo Jardim Zoológico do Rio de Janeiro e inesperadamente se deparando com um colega da CAIXA ECONÔMICA às voltas com um chimpanzé! Identifica-o: conhecido ocupante da então função de conferente, responsável, entre outras coisas, pela verificação da autenticidade das assinaturas e impressões digitais dos clientes. “Coisa esquisita”, você pode pensar, ou, vendo-o com uma máquina de fotografia, concluir: “ele está sendo piloto de sigilosa campanha publicitária da CAIXA, vai aparecer em cartazes em todo o Brasil. Tá com prestígio!” Na verdade, na presença e ajuda do tratador, que inicialmente atraira o animal com frutas, o Conferente colhia as impressões digitais das duas mãos do bicho. O dócil macaco, lá com seus pensamentos, também olhava para seus dedos sujos de tinta preta e, ao mesmo tempo, várias vezes, encarava seriamente o Conferente, com um olhar firme e indagador. Hoje, este papel com as impressões e as fotos constituem valiosas peças do seu acervo técnico. Sua excêntrica e rara atitude foi olhada com carinho e admiração pelos colegas de profissão, e estão no arquivo das suas curiosas recordações de aposentado.

Na verdade, porém, ele participou daquela cena por outros motivos. Competente e apaixonado por seu trabalho, ele foi escalado para dar aulas em Niterói (RJ), e, numa delas, confessou que lera um artigo jornalístico insinuando que as impressões digitais do macaco coincidiriam com as de um oligofrênico, e que gostaria de um dia esclarecer isto...

Um aluno captou a sua curiosidade, e, usando dos seus relacionamentos, arranjara-lhe aquela “entrevista” no Jardim Zoológico. Não chegou, contudo, a nenhuma certeza quanto às semelhanças das impressões dos primatas com as dos deficientes mentais, mas constatou que se tratavam de impressões com ausência de sinais tecnicamente chamados “deltas” comuns aos humanos, o que, de certo modo, dificultariam a implantação científica de identificação do sistema criado pelo cientista Vucetich. Quando as mostrava em aula, em comparação com as impressões humanas, os alunos, testados, ficavam surpresos e confusos, até quando ele revelava as origens daqueles traços.

(Ao conferente e professor Álvaro RobertoFigueiró MURCE, propiciador deste texto).



(07 de dezembro/2012)
CooJornal nº 817



Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ

miltonxili@gmail.com
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