05/10/2012
Ano 16 - Número 807

ARQUIVO
MILTON XIMENES

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Milton Ximenes Lima


“Caixistórias”

A OPORTUNIDADE

 

Milton Ximenes Lima - Colunista, CooJornal

 


"Caixa Econômica Federal - Sede Rio"
Foto MXL

Irregularidades sérias ocorreram nas então “filiais” do Amazonas e do Acre e a presidência da CAIXA ECONÔMICA se sentiu na obrigação de se fazer representar naqueles Estados, principalmente através de um advogado especializado em Direito Penal. Missão árdua, inúmeros causídicos da Empresa se recusavam a deixar suas origens para tão longínqua e responsável incumbência.

Sabendo que um colega carioca mantinha, desde 1960, um escritório no ramo, convocou-o para reunião com um seu representante no Rio, e outro, da Consultoria Jurídica, ligada à Brasília, na qual lhe conseguiram aquiescência à missão.

Ano de 1973, com bastante sacrifício, abrindo mão do seu cargo de tesoureiro pela carreira inicial de advogado, valor de salário inicial menor que o do seu, afastamento da sua família, suspensão da sua atuação no escritório, e mais, com o tempo, contraindo empréstimo sob consignação a fim de enfrentar despesas extras com as distantes estadias.

E em Rio Branco, tempos depois, já mais familiarizado com o ambiente forense, combinaram, advogados, juizes, pessoal dos cartórios e alguns penetras, uma “pelada” para um domingo próximo, no campo de futebol do hotel onde se encontrava hospedado.

Manhã premiadamente ensolarada, o grupo foi se formando, entre longos bebericos de uísque à beira da piscina. Gostaria de jogar, mas não tinha chuteiras. Então o Juiz Federal ofereceu as dele. Tomou-as, jogou-as na direção de folhagens e arbustos vizinhos.

A dificuldade era a demora da turma toda para completar os times. O terceiro litro de uísque já estava repartido... o sol queimava, incentivava novos goles. Atordoado já estava quando houve a convocação. Calçou a meia e enfiou o pé direito na chuteira. Tão rápido quanto o fizera, retirou-o. Súbita fisgada no seu dedão, e, agarrada, uma caranguejeira! Sacudia a perna para dela se livrar. Correria geral, os companheiros e serviçais acudindo, foi conduzido para o Pronto Socorro, onde foi imediatamente cuidado pelo próprio Secretário de Saúde do Estado.

A caminho deste atendimento, o passado já se cinematografava no seu cérebro: morrer agora, longe da minha mulher e dos meus filhos, dos amigos, da minha cidade? E os papéis a serem tratados, coisas a acertar, a mulher iria se enrolar toda! Meus Deus, eu estava lá no Rio, tão sossegado, em casa, ganhando meu dinheirinho certo, mas... VIVO! Agora, é a Maria que vai mais recriminar e lamentar esta minha aventura! E chorar... E as crianças? Futuro incerto...

Hospitalizado, o diagnóstico: deveria era morrer, porque o veneno da caranguejeira, não repelido a tempo, era fatal, mas... mas...

“–Bem, no seu caso, você escapou... porque bebeu demais, o álcool diluiu o veneno...”- sentenciou o doutor.

Voltando aos trabalhos, apressou providências finais junto aos superiores em Brasília, e, na primeira oportunidade, tratou de voltar para o Rio.

E no Carnaval próximo, bem vivo, espertíssimo, passou, desfilando na Passarela do Samba, na Escola do seu coração, a Vila Isabel, onde, por vinte e cinco anos, já emprestara sua alma de compositor e sua vocação de cantor.


(05 de outubro/2012)
CooJornal nº 807



Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ

miltonxili@gmail.com
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