23/09/2011
Ano 14 - Número 754


 

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"Amigo da Cultura"






ARQUIVO
MILTON XIMENES

 

Milton Ximenes Lima



UM DIA NA BIENAL (2011)


 

Milton Ximenes, colunista - CooJornal

Caros amigos: há mais de 70 anos cidadão deste imenso país, sou, portanto, “um idoso”. Desocupado não fui, cerca de 35 anos dei minha contribuição laboral à Pátria amada, bem como paguei todos os débitos oficiais inventados para se habitar e se trafegar por suas terras. Nada mais justo, agora, a gente, mal ou bem, se balançar na sua rede protecionista (Lei 10.741/03, o Estatuto, e Decreto 5934/06), que me abre um leque de gratuidades desde os 60 anos. Bem, no dia 5 de setembro, depois de longa e gratuita viagem de ônibus desde Vila Isabel até o Rio Centro, enfrentei as filas de entrada da Bienal, no Pavilhão Laranja. Munido da carteira de professor expedida pela Diretoria do Ensino Comercial do Ministério da Educação e Cultura (1970), quis me valer da orientação publicada em folheto d´ “O GLOBO” de 01.09, assim redigida: “Professores têm entrada gratuita, com apresentação de comprovante de profissão, carteira de identidade e CPF”. (pág.7). Então, ali, eis outra a realidade : - O Sr. tem que preencher, primeiro, um formulário, lá em cima daquele balcão. Era o “credenciamento de profissionais do livro, professores e bibliotecários”, que exigia, para os professores, “carteira de trabalho com o cargo Professor, Carteira de Professor da Escola Municipal, Carteira de Professor de Escola Estadual, Contracheque atual com cargo de Professor, cartão do INSS (caso seja professor aposentado), Diploma (ou cópia) de licenciatura em letras e/ou pedagogia, Carteira do SINPRO (Sindicato Nacional dos professores), Carteira do CREF (Conselho Regional de Educação Física)”, sujeitos ainda a exame da Organizadora.

Entendi o recado, troquei o exorbitante credenciamento pelo imediato pagamento: deixei na bilheteria os cobrados seis reais dos idosos e menores. Ora, o que me motivava estar ali não era me aborrecer e perder tempo com tais exigências, mas saborear o passeio literário pelos corredores dos três pavilhões, e voltar para casa antes do escurecer. Muitíssimos escolares, crianças e adolescentes, do Rio e de fora, ruidosamente curtiam um dia diferente na sua vida de estudante, aproveitavam os jogos eletrônicos e virtuais oferecidos, assistiam a teatrinhos, se sentavam em lugares que o(a)s professor(e)as entendiam apropriados para os lanches. Notei bom afluxo de público a uma livraria especializada em gibis com heróis “importados”, e a outra, que apresentava livros novos, alguns de autores renomados, a preços convidativos, talvez resultantes de encalhes de edições. Gostei muito de um painel colocado entre dois “estandes”, onde estavam impressas significativas poesias: Ser Grande, de Fernando Pessoa, e Das Utopias, de Mario Quintana, que, respectivamente, aqui relembrarei: 1) “Para ser grande, sê inteiro: nada/teu exagera ou exclui./Sê todo em cada coisa.//Põe quanto és/no mínimo que fazes.//Assim em cada lago a lua toda/brilha, porque alta vive. 2) Se as coisas são inatingíveis...ora!/Não há motivo para não querê-las...//Que tristes os caminhos, se não fora/a presença distante das estrelas!. Gostei também, muitíssimo, de abraçar e parabenizar a amiga, acadêmica, jornalista e colega da Caixa Econômica, Maria Augusta dos Santos, presença fiel nas Bienais, pelo lançamento do seu 15º livro, “História do Brasil: O Superior Tribunal Militar”.

Escolares de Teresópolis com a escritora Maria Augusta, foto MXL
Escolares de Teresópolis com a escritora Maria Augusta
Foto MXL

Enfim, para encerrar, O Globo trombeteou, em 12.09 (pg.14), o recorde de público, 670 mil pessoas, faturamento de 58 milhões, 12% a mais que a anterior, 2.8 milhões de exemplares vendidos (aumento de 15%), e investimento de R$4,2 milhões na programação cultural.


Escolares em pausa
Foto MXL

A não ser o livro da Maria Augusta, nada adquiri. Não por economia, é que já não tenho muito espaço em casa. E me conformei com o gratuito catálogo de obras da Editora do Senado Federal, por sinal indicativo magnífico para quem gosta de História do Brasil.

Agora, cá entre nós, já distantes as emoções daquele dia, fiquei matutando no quanto pesaria no sucesso financeiro do evento gerido pela FAGGA se me fosse permitido deixar de pagar os tão exigidos... seis reais!

Entre dois pavilhões, foto MXL
Entre dois pavilhões
Foto MXL

(23 de setembro/2011)
CooJornal no 754


Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ

miltonxili@gmail.com
miltonxili@yahoo.com.br

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