30/10/2010
Ano 14 - Número 708


ARQUIVO
MILTON XIMENES

 

Milton Ximenes Lima



 A-L-L-O-IN..... B R U X A S!


 

Milton Ximenes, colunista - CooJornal

Foi apenas uma coincidência, nada havia de programado. Quando estivemos no México, há sete anos atrás, chegamos à capital no dia 30 de outubro de 1997. À tarde, visitamos o espetacular Museu Arqueológico, um dos maiores e melhores do mundo e, à noite, saímos para um passeio pelas cercanias do hotel Calindas Geneve no centro da cidade. Foi aí que - respondo por mim - , tomei conhecimento, ao vivo, dos festejos do “Halloween”. Pessoas, a maioria jovens, sob fantasias fúnebres e agitados gritos, disputavam a entrada de um antigo prédio que deveria abrigar um bom salão de baile. O costume americano, pois, já tinha adeptos ali.

No dia seguinte, paralelamente, começaram os preparativos do hotel para festejar o Dia dos Mortos, providenciaram uma longa mesa
(foto 1), onde depuseram comidas típicas, frutas e bebidas, formas de oferendas aos queridos antepassados, e dispostas ali para quaisquer pessoas, hóspedes ou não. Então soube que é tradição no país famílias, principalmente as mais humildes, se dirigirem aos cemitérios e arrumarem sobre os túmulos mesas de iguarias e bebidas possivelmente do gosto dos amados ausentes. Uma festa para os falecidos, saboreada pelos vivos.

Mais tarde, no Hotel de la Borda, de Taxco, a cidade da prata, lá estava a mesa preparada festivamente. Passando pela Catedral de Cuernavaca, cidade “da eterna primavera”, preferida pelos veranistas de montanha, encontrei, sob marquises do pátio, outra imensa mesa, ocupada totalmente com comidas e bebidas-oferendas (foto 2), e, em destaque, um retrato grande, de um padre falecido, certamente uma lembrança querida para os paroquianos. Louvei, também, intimamente, o bom senso da Igreja ao conviver com os enraizados costumes populares.

Já no Brasil, em 2004, fiquei tristemente surpreendido com a saída de alunos de um curso primário de colégio no bairro de Vila Isabel, todos enfeitados com máscaras e trajes “halloweenianos”. Depois, percebi, a poderosa mídia, motorzinho inteligente dos interesses comerciais dessas datas fabricadas, a investir sorrateiramente sobre as cabeças brasileiras, muito chegadas às ruidosas comemorações. Não condeno, esclareço, a alegria típica dos nossos patrícios, ela é muitíssima necessária, e, sem exageros, um justo desabafo, um descarrego até, contra as pesadas preocupações existenciais. Condeno, sim, a macaquice, cópia irresistível de festejos estrangeiros que nada dizem com nossos costumes...

Quase simultaneamente, o MV-B, movimento nacionalista de combate ao estrangeirismo, espalhou oportunos cartazes por todo o Rio de Janeiro com dizeres seguintes: “Halloween é o cacete!”.

Em outubro de 2005, hotéis, inclusive os de tipo Fazenda, programaram tal festa como chamariz até para crianças; lojas dos centros comerciais se enfeitaram com máscaras alusivas, televisões abertas e pagas abriram programações específicas de filmes e desenhos animados, ininterruptamente. Até a Orquestra Sinfônica Brasileira, no tradicional Teatro Municipal, festejou a data, com execuções de Aprendiz de Feiticeiro (Dukas), Dança Macabra (Saint Sãens), A bruxa do meio-dia (Dvorak) e Noite no Monte Calvo (Mussorgsky), conforme O Globo de 29.10.2005, pg.22!

Parece que estamos perdendo mais esta patriótica batalha. Até quando vamos suportar tais FANTASMAS ALIENÍGENAS? E desafio os poderosos do mercado de propaganda e mídia a implantarem nos outros países uma comemoração muito nossa, principalmente no mês de junho e prolongamentos em julho: as divertidas e iluminadas FESTAS JUNINAS!

Prometo e juro que esperarei pacientemente... Agora, vamos ver o que nos reservam outubro/novembro de 2010! Já em outubro de 2008 propaganda na tv fechada, loja na rua da Carioca (RJ) com grande bruxa à porta, e lojas de grandes centros comerciais (“shoppings”?!) já começavam a se insinuar e a se enfeitar... Em 2009, repetições, não muito diferentes.

Vassouradas neles, amigos!


(30 de outubro/2010)
CooJornal no 708


Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ

miltonxili@gmail.com

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