02/10/2010
Ano 14 - Número 704


ARQUIVO
MILTON XIMENES

 

Milton Ximenes Lima



“PU-LULANDO”

 

Milton Ximenes, colunista - CooJornal

Política não é meu campo, nem minha praia. Antigos antecedentes familiares me recomendaram cautelas. Articulações, jogos de cintura, malícias em vozes e atos, e outros recursos típicos me amedrontam e, embora reconhecendo a boa-vontade e a honestidade em muitos dos nossos representantes, permaneço alerta sobre as reais intenções de alguns. Medo, inclusive de, sem sentir, ser arrastado por procedimentos inadequados à “boa ética”. Posso até me engajar em um projeto cultural, mas... até o momento em que sentir o desvirtuamento das suas metas.

Certa tarde, um dos meus cunhados, médico, dono de boa escrita e boa fala, atuante politicamente no seu meio profissional, me comunicou que lhe haviam oferecido um cargo de chefia no Sindicato da categoria, e me pediu opinião. Porque insistiu, falei. Aos meus olhos e ouvidos ele sempre se destacara nos bons e concisos artigos no jornal da classe e nas envolventes e perspicazes manifestações nas Assembléias, sempre crítico às certas atuações da Diretoria e de colegas.

- Acho que não deve aceitar – ponderei, e justifiquei – Você se acostumou a um procedimento sempre de oposição, não vai se acomodar em uma burocrática cadeira... Parece até um cala-boca pra você!

Não me deu mais notícias, mas certo é que nunca me falou, depois, de alguma cerimônia de posse...

Faço essa introdução e chego até aqui para dizer que, guardadas as devidas proporções, todo grupo político de longo tempo de oposição, ao assumir um governo esbarra, inicialmente, com o despreparo de ser situação, e busca a construção do seu caminho com a convocação das inteligências do partido e dos grupos que o elegeu, bem como o estabelecimento de alianças extras, politicamente convenientes. Depois, e de repente, sabe-se no Poder e começa, pelos meios que puder, a cativar simpatias para suas idéias e realizações... Então, chega o momento do deslumbramento do poder, e, seguro das suas novas raízes, adormece sua vigilância sobre os atos e comportamentos dos companheiros hierárquicos, sofrendo aí seus primeiros traumas éticos e morais.

Na verdade, como brasileiros, estamos todos tristes, decepcionados diante dos muitos provados fatos desabonadores, mas aguardo, o tempo mostrará quem merecerá ou não a necessária punibilidade. Pessoalmente, como cidadão de um regime democrático, só quero e espero que, primeiro – o(a) Presidente, constitucionalmente eleito, seja respeitado até o fim do seu mandato, já que, expurgados os tumores, é a governabilidade do país que está em jogo; segundo – que o Presidente constitucionalmente eleito respeite e assuma, também, o diálogo democrático com todos os cidadãos, seus representantes, suas instituições privadas e públicas, já que a transparência da sua voz e das suas atitudes serão vitais para a governabilidade do país.

Podem me chamar de ingênuo, mas, reafirmo, a política não é meu campo, nem minha praia. Na verdade, examinando bem, a História vive se repetindo, e, com medo de novamente sofrer, preferimos ter a memória curta. Tenhamos, agora, é paciência curta, tentemos virar logo mais esta página da vida do nosso povo, cobrando e acompanhando dos nossos eleitos a superação das, entre outras, nossas deficiências nos planos do saneamento, da saúde e da educação, desta especialmente, porque, aí sim, poderemos afirmar, mais tarde, que “um povo instruído jamais será vencido”!

Se nós quisermos, e Deus nos abençoar, chegaremos lá!

Deus, sim!... Não nos disseram que ELE também é brasileiro?


(02 de outubro/2010)
CooJornal no 704


Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ

miltonxili@gmail.com

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