10/07/2010
Ano 13 - Número 692


ARQUIVO
MILTON XIMENES

 

Milton Ximenes Lima



MEMORIZANDO A MEMÓRIA



 

Milton Ximenes

E sua memória, como vai? Mais nítida para os tempos antigos, mais distraída para os tempos recentes? Ou continua saudavelmente premiada?

Bem, por obra e graça do amigo Paulo de Tarso Medeiros, cachoeirense radicado no Rio, ganhei uma inteligente amiga virtual, a Rachel. Ela já está na fase dos “entas”, mas é hábil na informática, está sempre me repassando páginas sensíveis sobre os problemas do mundo, principalmente os que se debruçam sobre o ser humano integral: na alma, no corpo e no social. Além de poesias...

Sobre o assunto, ela me dá notícias de que, com a fantástica descoberta da Neurociência, surgiu uma estratégia contra o esquecimento que se intitula a “aeróbica dos neurônios”. Quem divulga isto é a psicóloga Denise Mendonça de Melo, formada pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora, no trabalho “Como melhorar o seu potencial cerebral”. Usando várias combinações dos sentidos – visão, olfato, tato, paladar e audição, além do sentido emocional, estimula padrões de atividade neural que cria mais conexões entre diferentes áreas do cérebro e faz com que as células nervosas produzam nutrientes naturais do cérebro, as neutrofinas. Revela que o cérebro, apesar de envelhecer, continua a possuir uma capacidade extraordinária de crescer e mudar o padrão das suas conexões.

A informação não veio com exemplificação de exercícios, apenas esclarece que a mudança é interna, diferente das recomendações atuais de se dedicar aos jogos de carta, quebra-cabeças, xadrez ou outra novidade...

Em resposta ao correio eletrônico da amiga, revelei procedimentos, da seguinte maneira: “Não é fácil esse problema de memória, principalmente quando a idade avança, chegando à etapa em que as mais velhas lembranças superam as novas. Bom, acho que um método bom, que precisa de vigilância e hábito, é viver detalhadamente o “agora”, ou seja, os momentos julgados importantes. Prestar sempre bastante atenção neles. Não deixar o emocional apressar o real, porque, assim, você não vai pensar e “gravar” nada. Viver os detalhes de cada momento, eis o caminho. O monge budista, vietnamita Thich Nhât Hanh, hoje residente na França, é o defensor do treinamento da “mente alerta”. Em um dos seus livros, conta a história do viajante que se aproximou do Buda e seus discípulos e perguntou o que eles faziam. Buda respondeu (entre outras): - Nós dormimos, nós acordamos, nós comemos, nós meditamos...O homem o interrompeu: - Mais isto não é novidade, todo mundo faz! Buda retrucou: -É verdade, mas nós quando dormimos, nós dormimos mesmo; quando acordamos, nós acordamos mesmo; quando comemos, nós comemos mesmo, quando meditamos, nós meditamos mesmo....”

Daí concluirmos o quanto é difícil, nesses tempos de correria existencial, conscientizarmo-nos dos momentos que vivemos, gravá-los no arquivo da nossa memória. Não precisa nem ser todos eles, só os importantes. É muito difícil este aprendizado do agora. Por exemplo: detesto televisão nas horas das refeições, ela distrai o nosso paladar, não nos deixa curtir as “benesses” dos alimentos. Temos que almoçar, “almoçando”, todos os sentidos acionados! E hoje os restaurantes estão cheios de aparelhos nos tetos, “agradando” visualmente muitos fregueses...

Bem, dei aqui meu depoimento. Só acrescento que bom também é criar o hábito de recordar, pela manhã, todos os atos realizados no dia anterior.

Outros terão seus próprios métodos, mas, para terminar e... relaxar, ao se falar de recordações, não posso deixar de contar a real história de uma colega de trabalho, hoje aposentada, participante de reuniões de um Círculo Bíblico, que festejou ter seu médico lhe receitado excelente remédio para memória. Quando lhe perguntaram qual o nome do remédio, ela hesitou, ficou pensativa, e confessou:

- Não é que me esqueci!

E emendou, tentando se superar:

-Mas deixe comigo... Logo que chegar em casa, vou verificar e lhe telefonar!

Enfim, conclamo: - Vamos memorizar a memória?



(10 de julho/2010)
CooJornal no 692


Milton Ximenes é cronista, contista e poeta
RJ

miltonxili@gmail.com

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