Chegando de viagem com várias coisas por arrumar, site em edição, muitos telefonemas e correspondência a responder, acelero para dar conta de tudo. Entro na área de serviço, carregando uma pilha de roupa para pôr na máquina de lavar, quando escuto uma voz macia que já distingo bem dentre as da vizinhança.

- Pai, pai, cadê você?

Quem pergunta é um menino encantador, dos seus cinco anos, que quando vê Sansão vem correndo abraçá-lo e é um sem fim de aperta, beija, adula. Não raro, sua mãe bate à porta para saber se o filho pode brincar com o amiguinho. Poder, sempre pode, resta saber as regras: tentar amarrar suas orelhas no alto da cabeça ou puxar o rabo para que ele cresça, é proibido; lamber bem um caramelo e passar para a boca do cão, explicando que lambe para ficar mais macio, também não dá. Mesmo porque, a brincadeira é, depois, tirar da boca do outro e passar para a sua própria. O restante, assim por alto, que me lembre, está liberado.

Voltando à criança que continua chamando pelo pai, cada vez em tom mais alto e angustiado, até que ouve (e o prédio todo também) a resposta:

- Estou ocupado no banheiro, meu filho. O que você quer?

- Quero fazer cocô.

- Espera um pouco. Você sabe que aqui só tem uma privada. Já vou sair e você vem.

- Não precisa sair não. Sento no seu colo.


Fiquei sem saber como resolveram o caso...

- Comentários sobre o texto  podem ser enviados, diretamente, a irene@riototal.com.br 

(15 de junho/2015)
CooJornal nº 940