10/06/2011
Ano 14 - Número  739


Amigos da Cultura

 

ARQUIVO
IRENE SERRA

 


 
Irene Serra  
  

Jornal do Enéas

 

Irene Serra - CooJornal

Estou triste. Muito triste!

Em meio a tantas alegrias que me caíram do céu, agora em junho, como a entrevista à Literacia, por Belvedere Bruno, da qual tantos bons comentários foram feitos – alguns diretamente dirigidos a mim, outros postados no blog Literacia -, não me sai do pensamento uma tristeza imensa: recebi o “Jornal do Enéas”, em que o editor comunica o fim de sua circulação, após dez anos de ininterruptas edições.

Por que, meu Deus? Por quê? Isso não estava no trato com meu coração! Mesmo se o Enéas soubesse o tamanho do cantinho que tem em mim e eu houvesse lhe dito e repetido, mil vezes, o bem que me faz ler seus artigos, a amargura pela perda de novas edições não seria menor.

O poeta Manoel Monteiro, da Paraíba, escreveu, frente ao Rosilho - o cavalo mais simpático, manso e servil que teve a sorte de pertencer ao Enéas:
‘Choro fácil. Poeta chora fácil. Fiz uma ilação do Simpático, do Enéas, com as injustiças sofridas pelo Castanho do meu cordel e, chorei mais.’

Com a notícia de hoje, confirmei que também choro com facilidade. Na verdade, estamos todos com esse sentimento de perda. Querendo mais Enéas, mais outros e outros extraordinários textos, querendo a certeza do Jornal sendo colocado em nossa caixa e trazido, prazerosamente, para dentro de casa. Momentos só nossos. Apreciações individuais em que nada precisa ser dito, só sentido.

Volte, Enéas, por favor, volte! Não nos deixe órfãos da boa literatura!

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* Segue a despedida do Jornal do Enéas, pelo próprio editor.

Nossa Mensagem

Com este número o "Jornal do Enéas" encerra sua trajetória e deixa de circular. Foi uma decisão espontânea, independente de outros fatores, uma vez que, com idênticas características, teríamos condições de editá-lo indefinidamente. Entendemos, porém, que o jornal cumpriu sua missão e mostrou que havendo boa vontade é possível realizar, mesmo em períodos adversos às coisas da cultura.

Foram dez anos de permanente intercâmbio com centenas de instituições, colaboradores e leitores. O jornal circulou em todos os Estados sem exceção. e em alguns outros países, como Portugal, França, Itália, Estados Unidos, Uruguai etc. Resistimos em alargar a rede internacional porque seria impossível mantê-la.

Desde o número inicial foi distribuído a instituições culturais, academias, universidades, escolas importantes, bibliotecas públicas, arquivos e institutos, hemerotecas, professores, jornalistas, escritores, poetas, artistas plásticos e fotógrafos espalhados pelo país. Incontáveis têm sido as manifestações recebidas através dos correios, telefonemas e mensagens eletrônicas. Inúmeras referências apareceram na média e muitos textos nele publicados mereceram transcrição em revistas, jornais, capas e orelhas de livros, na internet e até em teses acadêmicas. Comentários foram feitos em reuniões de entidades culturais e literárias.

Publicamos autores de todos os recantos, ainda que não fosse possível aproveitar sequer metade do material recebido, mesmo quando tinha qualidade, por absoluta falta de espaço. Nunca conseguimos atender a todos os pedidos, sempre superiores às tiragens. O jornal mereceu três prêmios e um artigo nele publicado também foi premiado. Muitos o colecionaram, desde o início, e alguns até reproduziram exemplares para enviar a pessoas de suas relações. Ficou tão conhecido que muitos o tratam como "o Enéas" ou se referem a matérias aparecidas "no Enéas" indicando que o nome do editor foi transferido ao jornal. Várias propostas de ajuda financeira, sob a forma de propaganda ou contribuição, foram apresentadas mas sempre recusamos em nome da absoluta independência.

Diante disso tudo acreditamos que o jornal conquistou seu lugar na história dos alternativos culturais brasileiros. Esperamos que outros surjam na sua esteira, oferecendo espaço aos que produzem e permanecem sufocados, sem encontrar quem os publique. Registramos aqui um agradecimento muito especial a todos os que colaboraram, apoiaram e divulgaram, muitos dos quais nos acompanharam com interesse desde o primeiro número.

O EDITOR

(10 de junho/2011)
CooJornal no 739


Irene Vieira Machado Serra
professora, foniatra, editora da Revista Rio Total
RJ 
irene@riototal.com.br