Os jogadores entram em campo e a torcida se pergunta: Onde está o meu
time? Ambas as equipes usam calção e camisa branca. Só as meias as
diferenciam. O time A está de meias brancas e o time B de meias amarelas.
Em pouco tempo, as vaias começam.
O juiz corre para o centro do gramado - tentando se fazer ouvir em meio
ao alarido - mostrando que, conforme as regras desportivas, os uniformes
não podiam ser iguais. Que um dos times usasse o segundo ou terceiro
uniforme. Afinal, era impossível distinguir A de B.
Como é interessante quando se chega ao Maracanã e encontramos o Flamengo
de vermelho e preto e o Fluminense de verde, branco e grená. O colorido
chama a atenção. Observamos a característica de cada jogador, as raízes
e história do time, a mão do técnico que os conduz. Tudo é um atrativo a
mais.
O mesmo se pode dizer quando Botafogo e Vasco jogam. Sim,
ambos de preto e
branco. Mas a camisa de um é listada, a do outro de cor
única com uma faixa em diagonal no peito. Até mesmo quando a tv era
apenas em
preto e branco, sabia-se quem era quem, os grupos se diferenciavam. Ainda mais: há o estilo, a
garra, a apresentação ímpar de cada jogador. O torcedor sabe bem o que é
isso, o quanto vibra com seu time do coração, como
defende suas cores.
Nunca se ouviu dizer que um técnico escalasse para jogar, em uma mesma
partida, jogadores do outro time. Então, por que aquela mesmice, aquela igualdade que fatalmente
tornaria o jogo desinteressante?
Era essa a barafunda de pensamentos em que Gustavo se encontrava quando
ouviu soar o apito do juiz, cancelando a partida. Aquele som estridente e
longo chamou-o à realidade. Estava cochilando de há muito! Levantando-se,
ainda sonolento, pensou: "ainda bem que
essa falta de criatividade não acontece no mundo real."
Mas, por um momento, ainda teve a impressão de, em relance, ver os bandeirinhas correndo para o centro do
gramado... vestidos
de branco.
(29 de agosto/2008)
CooJornal no 596
Irene Vieira Machado Serra
professora,
foniatra, editora da Revista Rio Total
RJ
irene@riototal.com.br