12/10/2002
Número - 281




Irene Serra  
  

VELHAS, MAS SEMPRE NOVAS EMOÇÕES

 

Após a emoção de voltar a usar Cashmere Bouquet e dedilhar uma velha Olivetti acompanhando o pensamento de alguns amigos cronistas desta semana, resolvi sair e andar sem rumo pelas ruas que percorro desde minha infância. Imaginei que, sendo à tarde, encontraria tranqüilidade para um belo passeio. Que engano!

Ipanema fervilhava. Camelôs abarrotavam as calçadas empurrando-nos suas mercadorias com mais veemência que o habitual. Sorveterias pipocavam de mães com seus filhos, que não tinham braços suficientes para carregar a quantidade de sacolas e presentes que traziam consigo. Eram embrulhos tão meticulosamente bem arrumados, enfeitados de laços e pirulitos, que dava pena saber que seriam desfeitos.

Só então me dei conta: vem aí o Dia das Crianças!

Mas, por onde elas andam? Aquelas que ouviam histórias contadas pelas tias e avós. Que pulavam amarelinha e brincavam de cabra-cega. Qual menino faz hoje seus carrinhos de rolimã e monta exércitos de caixas de fósforo ou pinta tampinhas para representarem jogadores de futebol?

Parece que não há mais crianças! Quase todas estão em frente à televisão, assistindo a uma novela seguida da outra, ou grudadas em celulares marcando encontro em shoppings. Muitas, vestidas de adulto, sob a conivência dos pais que, não querendo se amofinar, simplificam iludidos: "Para que preocuparmos, se a geração atual é assim?"

Ah, crianças de agora, vocês não sabem o que estão perdendo! Felizes somos nós, as velhas crianças de outrora, a quem sempre haverá um Dia da Criança a ser comemorado.


(12 de outubro/ 2002)
CooJornal no 281


Irene Vieira Machado Serra
professora, foniatra, psicóloga, editora da Revista Rio Total
RJ 

irene@riototal.com.br