01/09/2021



 

ARQUIVO
IRENE SERRA





 

Irene Serra



RESGATE
 

 


Há algum tempo, ao ser entrevistada por Márcia Leite para o seu Deleite's, abordei a diversidade de conteúdo dos emails que recebemos através da Revista Rio Total, desde as abordagens mais infantis a graves problemas de saúde ou financeiros. A todos tento responder com a mesma atenção e cuidado, apesar de bem saber da urgência ou não de cada um.

Este ano tem-nos sido de uma alegria e felicidade sem iguais. Se Rio Total terminasse agora, consideraria que cumprimos uma  missão. Como temos sido recompensados!

Em abril, chega correspondência de Budapeste: "I'm searching xx and her sons (yy and zz). If you know anything about them, please contact me: …." E a resposta estava logo ali ao nosso alcance! Após rápida troca de correspondências, o susto: "Como você conseguiu isto?", pergunta-me Helga Szmuk, nossa astrônoma. Passei a participar da alegria das "meninas", recebi fotos, fui convidada a visitar a família. Enfim, sou premiada ao saber que as amigas separadas bruscamente desde a segunda guerra estarão se encontrando, semana que vem, na Hungria. O tempo nem o sofrimento as afastara.

Mal "entregamos" o Caso Hungria, chega-nos outro, prova de admirável tenacidade e amor filial.

Uma jovem navegante, procurando pelo sogro que não conhece, chega às margens do São Francisco, via internet. Ali havia uma balsa, já gasta pelo tempo e não muito estável mas, encorajados, ela e o marido nela embarcam. Cúmplice de mais um caso de amor, o "Velho Chico" como conhecido leva-os ao Rio Total. E aí, ancorados, fazem sua pesquisa. É quando o rapaz manda um email direcionado ao CooJornal, de forma sensível e sofrida, expondo sua constante busca ao pai e a ansiedade em revê-lo. Dele, só guarda o nome... e a saudade! Nem uma foto!

Um homem maduro, olhar fixo às palavras que parecem saltar do computador, surpreso, medita perdendo-se no passado. O amor à companheira de outrora - que lhe dera um filho - ficara adormecido em Petrolina, às margens do São Francisco, quando de lá é transferido. Vai para São Paulo, depois viaja para o exterior, sendo que ao retornar alguns anos depois, constitui família no sul. Esquecera o passado, o amor primeiro? Nunca! Seus olhos sempre tristes traem a muda pergunta que para não ferir ninguém, pois a sabe casada teima em não fazer. E se nada de si fora contado ao filho? E se ele o recusasse? E se o odiasse? E de se em se foi-se deixando calejar. Ficaram apenas os sonhos... e a saudade!

Lê e relê: "Venho através desta pedir ao senhor um favor; procuro uma pessoa chamada...". Seria coincidência? Poderia ser seu próprio filho a pedir ajuda, justo a ele?

Responde-lhe, então, 25 anos consumidos em segundos, citando dados, solicitando outros, em prece a Deus para que fosse este o seu filho. Sem acanhamento, deixa os olhos chorarem em meio à alegria imensa, na certeza de que não seria abandonado agora, quando suas esperanças se renovavam.

E rápida chega a réplica. Ele mal sussurra as palavras: "A bênção meu Pai! Até que enfim nós nos encontramos, vc não imagina o quanto te procurei."

Nos abraçamos, emoção transbordando. Finalmente, a paz! O amor! A família aumentando e com direito a dois lindos netos!

- Pelo homem que você se fez e por tudo que passa a representar para mim, um novo filho, uno-me a seus pais para também rogar: Deus o abençoe, Lippe!


(RT, setembro 2001)

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Irene Vieira Machado Serra
foniatra, editora da Revista Rio Total
RJ 
irene@revistariototal.com.br

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