016/02/2021
Ano 24 - Número 1.210




ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO

 

Venha nos
visitar no Facebook

Enéas Athanázio


OBRA CONSAGRADA

Enéas Athanázio - Colunista, CooJornal

Professor, conferencista, ensaísta e, acima de tudo, poeta, Gilberto Mendonça Teles é autor de uma obra, em prosa e poesia, que vem merecendo decisiva aprovação da mais exigente crítica, nacional e estrangeira, e pelos seus incontáveis leitores. Ele é colocado na primeira linha dos grandes poetas da atual literatura brasileira, com reflexos no exterior.

Em reconhecimento ao grande poeta goiano e como merecida homenagem, a Editora Kelps (Goiânia – 2020) publicou em esmerada edição de luxo, em elegante caixa, a obra de Gilberto sob o título geral de “As interfaces da poesia.” Nela aparece a Trilogia que contém o essencial de sua poesia, em três volumes, sob os títulos de “Sintaxe invisível” (Vol. I), “A raiz da fala” (Vol. II) e “Arte de armar” (Vol. III), o que já indica uma obra sofisticada e de elevado nível filosófico e poético. Como exemplo do conteúdo, o primeiro volume se divide em três partes: “Sintaxe invisível”, “Limites do acaso” e “Sonetos do azul sem tempo”, antecedidas de longo ensaio introdutório. Para o leitor curioso, colho aqui trecho de um poema:

“Eu caminho seguro entre palavras
e páginas desertas. Nas retinas:
sonho de coisas claras e a lição
de outras coisas que invento
para o só testemunho
de minha construção
imaginária
de pedra
sobre pedras
e cimento
e silêncio.”

O segundo volume se divide em duas partes (“A duração do nome” e “No vértice da fala”) e o terceiro em três (“Falavra”, “Hora aberta” e “Pública forma.”) São blocos compactos de poesia esculpida com inspiração e técnica elevada, abordando grande variedade de temas. Como se observa, muitos títulos de poemas aguçam a curiosidade do leitor. O poeta é de uma criatividade sem limites. Transcrevo aqui um trecho de “Falavra”:

“Ainda sei da fala e sei da lavra
e sei das pedras nas palavras áspedras.
E sei que o leito da linguagem leixa
pedregulhos na letra.
É como o logro
da poeira na louça ou como o lixo
nos baldios do livro.
 
Ainda sei da língua e sei da linha
do luxo e suas luvas, amaciando
os calos e os dedais.
E sei da fala
e do ato de lavrá-la na falavra.”

Como escreveu a crítica Rosemary Ferreira da Silva, “O poeta, na sua Trilogia, revela a argúcia frente aos procedimentos da arte poética. Passo a passo, ele procura aprimorar seu ato criador, “ligado à tradição (conhecimento) e fazendo dela sua matéria da modernidade, atualizadora.” Ele faz uma defesa da poesia como conhecimento da arte poética, adentra nas franjas do texto literário, sobretudo a poesia, no percurso ordenado pelos “sortilégios da criação.”
 
O resultado é uma poesia sofisticada e exigente. Não pode ser lida às carreiras. Há de ser lida com calma, analisando os vocábulos empregados com absoluto critério (cada um com seu peso) e pensando para que se descortine diante do leitor o universo infinito da poesia.

Complementando o  box, a editora acrescentou robusto volume contendo ensaios sobre poesia e crítica elaborados pelo autor. Nele aparecem substanciosos trabalhos que contribuem para a perfeita interpretação da Trilogia, destacando-se nesse sentido “O processo criativo na Trilogia.” Também são importantes os ensaios “Poesia da arte do amor” e “O exercício da crítica da poesia”. O volume se fecha com a fortuna crítica do autor, revelando a repercussão de sua obra.
 
Em volume à parte, Appris Editora (Curitiba – 2020) publicou uma seleção de ensaios sobre a literatura brasileira de autoria de Gilberto. Nele aparecem ensaios, conferências, palestras e outras intervenções no mais variados locais do país ou publicados em veículos dedicados às letras, inclusive do exterior. Merece referência especial o ensaio “O r(h)umor inaudível das palavras” pelas implicações que contém. A publicação do livro não poderia ser mais oportuna.
 
O lançamento da obra de Gilberto Mendonça Teles é um acontecimento editorial e literário a ser comemorado. Espero que mereça o acolhimento do público leitor, uma vez que na voz da melhor crítica já é uma obra consagrada.


Comentários sobre o texto podem ser enviados ao autor, no email e.atha@terra.com.br  



Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
Balneário Camboriú - SC





Direitos Reservados
É proibida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor.