01/04/2019
Ano 22 - Número 1.119

ENÉAS ATHANÁZIO
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Enéas Athanázio


NA BOCA DO POVO

Enéas Athanázio - Colunista, CooJornal



O excelente “Boletim C. S. C.”, do Rio de Janeiro, em seu número mais recente, publicou interessante matéria sobre ditos populares que correm de boca em boca e cujos significados e origens muitas vezes são desconhecidos. É uma pesquisa das mais curiosas e que bem merece um comentário.

Jurar de pés juntos – A expressão deriva de torturas aplicadas durante a Inquisição. O acusado de heresia tinha pés e mãos amarrados juntos e era submetido a torturas até dizer a “verdade”, ou aquela que os torturadores entendiam como verdade. Hoje é usada para afirmar a veracidade de uma afirmação.

Tirar o cavalo da chuva – Antigamente o visitante chegava a cavalo e o animal ficava amarrado numa cerca e na intempérie. Quando a visita era longa, o dono da casa mandava recolher o cavalo ao galpão, ou seja, tirá-lo da chuva. Significava que o visitante não deveria sair tão logo. Com o passar do tempo, tirar o cavalo da chuva implica em negar alguma coisa, provocar a desistência.

Dar com os burros n’água – Na época dos transportes em lombo de burros por caminhos tortuosos, as tropas tinham que varar rios e alagados. Muitas vezes os animais caíam ou afundavam sob o peso das cargas, ou seja, os burros davam n’água. Hoje significa o fracasso de alguém ao pretender realizar alguma coisa.

Guardar a sete chaves – Os nobres guardavam suas jóias e documentos em baús com quatro chaves, cada uma entregue a um alto funcionário de confiança. Com o tempo o número foi aumentado para sete chaves em virtude do sentido místico desse número. Hoje, guardar a sete chaves significa dizer que algo está muito bem guardado.

Para inglês ver – A Inglaterra exigia que o Brasil aprovasse leis proibindo o tráfego de escravos. Mas todos sabiam que elas eram burladas e desobedecidas. Eram, portanto, leis para inglês ver. Daí surgiu a expressão, significando algo que vale apenas na aparência.

Rasgar seda – Elogio exagerado é considerado uma rasgação de seda. Numa peça teatral de Martins Pena um vendedor se põe a elogiar os tecidos que vende, tentando conquistar uma moça. Percebendo o propósito dele, a moça diz: Não rasgue a seda que ela esfiapa!

O pior cego é o que não quer ver – Quando foi feito o primeiro transplante de córnea, na França, e o paciente passou a enxergar, ficou tão horrorizado com o que viu que preferiu retornar à cegueira. O caso foi parar nos tribunais e o ex-cego obteve ganho de causa. Desde então ficou conhecido como o cego que não quis ver. Hoje significa aquele que se recusa a ver a realidade.

Quem não tem cão, caça com gato – Significava, no início, que quem não tem cão caça como gato, ou seja, esgueirando-se, com astúcia, à traição, como fazem os gatos. Hoje significa que quem não tem o mais deve se contentar com o menos.

Vai tomar banho! – Os colonizadores não eram dados a banhos e, em consequência, cheiravam mal. Seu bodum repugnava aos índios, acostumados ao banho diário e ao contato com a água. Então os índios, fartos de lidar com os portugueses, os mandavam tomar banho.

Pensando na morte da bezerra – Expressão pouco conhecida aqui no Sul, vem do folclore hebraico onde os bezerros eram sacrificados para Deus. Um filho do rei Absalão tinha grande apreço por uma bezerra que foi sacrificada e quando ela morreu ficou pensando nela até morrer alguns meses depois. Então, pensar na morte da bezerra é entristecer, sofrer, sucumbir ao sofrimento.

Ok! (Okay!) – Significa algo positivo, que está bem. Durante a Guerra de Secessão, nos Estados Unidos, quando os soldados retornavam dos combates sem baixas colocavam uma placa com os dizeres: “O killed” (zero morto). Daí surgiu o termo OK!

A pesquisa foi realizada por José Carlos do Amaral, de Minas Gerais.

E forró, de onde vem? – Segundo se diz em Natal, durante a presença de tropas americanas na cidade, no correr da II Guerra Mundial, os soldados organizavam bailes para todos, ou for all. A expressão foi abrasileirada e virou forró.

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Comentários sobre o texto podem ser enviados ao autor, no email e.atha@terra.com.br  



Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
Balneário Camboriú - SC




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