15/07/2015
Ano 19 - Número 944

ENÉAS ATHANÁZIO
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Enéas Athanázio

NOSSA LÍNGUA

Enéas Athanázio - Colunista, CooJornal

O Prof. Durval de Noronha, presidente nacional da União Brasileira de Escritores (UBE), publicou um livro da maior importância para quem usa a língua portuguesa, falando ou escrevendo. Trata-se de “Relembrando o Português com dicionário de anglicismos” (Observador Legal Editora – S. Paulo – 1998) e constitui excelente lição em defesa de nossa língua, o maior patrimônio cultural de um povo e merecedor de toda atenção. Linguista de grande competência e erudição, dominando vários idiomas, é autor também do “Dicionário Jurídico Noronha Inglês-Português/Português-Inglês”, considerado pela crítica especializada, brasileira e estrangeira, o melhor do mundo. Neste segundo livro ele faz um alerta contra o perigo da deteriorização e do abastardamento da língua em consequência da invasão absurda de vocábulos estrangeiros, ameaçando-a inclusive de perder as características e se transformar num patoá incompreensível. Essa invasão de palavras estrangeiras é, em sua maioria, do idioma inglês, hoje dominante em todo o mundo graças ao poderio econômico dos Estados Unidos, como aconteceu no passado com o francês, usado no Brasil a ponto de merecer o repúdio de muitos intelectuais da época. O uso de expressões estrangeiras, em princípio, nada tem de anormal porque os idiomas sempre se comunicaram entre si, absorvendo vocábulos uns dos outros e até se enriquecendo com isso. O problema surge com o uso indiscriminado e desnecessário de palavras estrangeiras que têm equivalentes em português, quase sempre mais indicados e precisos que os importados. Isso se deve muitas vezes ao fato de considerarmos superior tudo que é estrangeiro, como fruto de nosso velho complexo de inferioridade, ao esnobismo mal informado e, acredito eu, ao espírito de imitação brasileiro, sempre pronto a macaquear os costumes alheios, como dizia Monteiro Lobato. “Barbarismo ou estrangeirismo é o emprego, na língua, de palavras estranhas na forma ou na ideia, ou inteiramente desnecessárias ou contrárias à sua índole”, escreveu o autor reportando-se ao Prof. Napoleão Mendes de Almeida.

Em capítulos especiais e ilustrativos, o autor aborda a evolução histórica e a formação das línguas inglesa e portuguesa, revelando sempre amplo domínio do tema tratado. A leitura deixa nítida impressão de que ele possui rara intimidade com cada um dos vocábulos, acreditando que seja inveterado leitor de dicionários, como o foram Lobato e Euclides, em contato pessoal e direto com cada uma das palavras. Lê e escreve o português, o inglês, o italiano e o espanhol. Lê e escreve o latim e o francês. Lê o alemão e tem conhecimentos aprofundados do tupi guarani e do quimbando.

Com tão espantoso cabedal, reforçado pelo seguro conhecimento da história, mostra como o inglês é devedor do latim, através do francês, apesar de persistir “uma grande rivalidade e até uma certa animosidade entre as duas culturas” (p. 83). Os orgulhosos ingleses não parecem nem um pouco inclinados a reconhecer tal dívida. É curioso observar que a língua inglesa é a que mais cresce no mundo, com exceção dos próprios Estados Unidos, onde a campeã é o castelhano. Por incrível que pareça, o fato de ser falada em muitos pontos do mundo põe o inglês em maior risco que outros idiomas, não apenas pelo ingresso constante de vocábulos estrangeiros, como pela diferença abissal de pronúncias e significados. A contribuição de Shakespeare à língua inglesa foi substancial, estimando-se que ele introduziu nela cerca de 1700 palavras novas.

Quanto ao nosso português, nascido do latim em decorrência da ocupação romana da Península Ibérica, é hoje a língua nativa de 210 milhões de pessoas. Camões, com “Os Lusíadas”, voltou às raízes latinas e renovou a língua. Numerosos são os termos de sua lavra. Produziu sua obra quando Shakespeare nascia. No Brasil, o português recebeu valiosa contribuição do tupi guarani cujos vocábulos, em grande número, são de uso corrente entre nós. Acentue-se ainda que nossa língua tem uma riqueza de nuances e recursos que fazem dela o mais extraordinário e melodioso idioma do mundo. Cabe-nos o dever imperioso de velar pela sua integridade.
Na parte final, o autor incluiu o dicionário de anglicismos, listando palavra por palavra os mais usados no país. Fornece o seu significado em português e tupi (quando é o caso), a forma usada nos Estados Unidos e no Reino Unido, a classificação da palavra, alertando quando se trata de pseudo-anglicismo. Mostra ainda os muitos usos errados, a atenção e o cuidado com que devem ser aplicados para evitar equívocos grosseiros como tantos.

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Contatos com o Autor comentado: Rua Rego Freitas, 4 5 4
Conj. 1 2 1 – 01220-010 – SÃO PAULO – SP.

 

Comentários sobre o texto podem ser enviados ao autor, no email e.atha@terra.com.br

(15 de julho, 2015)
CooJornal nº 944



Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
Balneário Camboriú - SC




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