O escritor amazonense Gaitano Antonaccio, autor de vasta obra, publicou dois volumes de ensaios biográficos muito interessantes a que deu os títulos de “Astros” e “Estrelas”, abordando atores e atrizes que se imortalizaram na chamada sétima arte – o cinema (Imprensa Oficial do Amazonas – Manaus – 2011). Depois de longas e minuciosas pesquisas, reconstituiu as vidas e realizações de inúmeras pessoas que se dedicaram a essa forma de arte inventada pelos Irmãos Lumière em 28 de dezembro de 1895 e que depois passou para a televisão e se universalizou. Os livros reúnem imensa quantidade de informações, além de fotos das figuras abordadas, e são precedidos de um prefácio que expõe em largos traços a história do cinema no mundo e no Brasil.

A leitura do volume dedicado às mulheres é revelador. Mostra como muitas foram tomadas pelo estrelismo, agindo de maneira irracional e destruindo a carreira e, às vezes, a própria vida. Por outro lado, não foram poucas as que se tornaram vítimas de exploradores, como os agentes que tratavam de seus negócios e até das empresas pelas quais estavam contratadas. Mas o que choca acima de tudo é o ror de tragédias que parecia perseguir as estrelas, criando situações imprevisíveis e inesperadas. Foram poucas as que tiveram existência longa e pacífica.

Alguns exemplos elucidam o que acabo de dizer. Anita Ekberg, atriz exuberante, protagonista do célebre filme “A doce vida”, perdeu tudo que possuía, ficando reduzida à pobreza, e vive reclusa numa granja nos arredores de Roma. Susan Hayward, mulher belíssima, foi acometida de câncer ao ser submetida a radiação durante as filmagens em Utah, em local contaminado por radiatividade. Outros atores e figurantes foram vítimas do mesmo mal. Natalie Wood, no auge da fama, desapareceu no mar depois de uma discussão com o marido, Robert Wagner, num iate de propriedade dele, em circunstâncias nebulosas e nunca bem esclarecidas. Segundo o Autor, no final de 2011 o caso foi reaberto para novas investigações. Jayne Mansfild, atriz exuberante, pereceu como vítima de acidente de carro aos 34 anos de idade, cortando uma promissora carreira. Quando esteve no Brasil provocou sensação ao mergulhar nua na piscina do Copacabana Palace. Protagonizou o filme “Promises”, que lhe valeu o prêmio Globo de Ouro. A temperamental Zsa Zsa Gabor esteve sempre envolvida em confusões, dando margem a amplo noticiário negativo. Além de ter casado nove vezes, foi presa e condenada a uma pena de 120 horas de trabalho comunitário por ter agredido um policial. Como se não bastasse, segundo rumores que corriam, tornou-se a prostituta mais cara de sua época, triste qualificação para uma atriz tão bela e de tanto talento. Fez mais de 60 filmes, entre eles o célebre “Moulin Rouge.” Sofreu grave acidente de carro, sento submetida a delicada cirurgia já em idade avançada. Ava Gardner, uma das mais famosas e belas atrizes do cinema, viveu os últimos anos em total solidão, depois de três casamentos fracassados, um deles com Frank Sinatra. Teve um caso muitíssimo comentado com o célebre toureiro espanhol Luís Dominguin, grande amigo do escritor Ernest Hemingway. Esther Williams, a heroína das águas, durante longo tempo ficou reduzida a mera dona-de-casa por imposição do marido, o galã argentino Fernando Lamas, pelo qual foi apaixonada. E vamos ficando por aqui, uma vez que a lista não teria fim.

Mas nem só de tragédias se fez a história do cinema. Nascida em 1934, Sophia Loren continua viva e forte, ainda bonita. O mesmo acontece com Úrsula Andress, que veio ao mundo em 1936, com a francesa Brigitte Bardot, nascida em 1934, Deborah Kerr e Cláudia Cardinale, ambas de 1939. A célebre Bette Davis viveu 81 anos, Bárbara Stanwyck, 83, e Virginia Mayo 84. Nem todas sucumbiram aos encantos da vida frenética das câmeras e dos estúdios. E deram o melhor de si para realizarem filmes que ficaram na história e na lembrança dos apreciadores do cinema.

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(15 de novembro/2013)
CooJornal nº 866