Escrevi em outras ocasiões que a repetição de certos fatos me causa a impressão de que o país anda em círculos. Situações que pareciam resolvidas, depois de ampla discussão, e sedimentadas pelo tempo e pela experiência voltam à tona e provocam idênticos debates, com a monotonia dos mesmos argumentos e alegações. É o que está acontecendo no momento em que escrevo com a famigerada PEC 37, que tramita no Congresso Nacional, e que pretende retirar o poder de investigação do Ministério Público. Tudo que leio e ouço a respeito é a mesma cantilena monocórdia dos interessados ou dos que têm receio de um Ministério Público forte e independente. Até mesmo a velha e revelha alegação de que o Parquet pretende invadir atribuições da Polícia Judiciária vem sendo ensaiada em algumas manifestações. Ora, tudo isso já foi debatido à exaustão e analisado por um ror de juristas desde a Constituição de 1988, além de estar mais que demonstrado na prática que o poder investigativo da Instituição foi uma das grandes conquistas democráticas e vem contribuindo de maneira decisiva no combate à corrupção. Mas no lamentável vale-tudo que se instaurou a respeito do tema, os mais surrados argumentos voltam a ser esgrimidos como se fossem novidades.

Para completar o quadro, a Assembleia Legislativa de São Paulo ameaça promover um retrocesso aos anos 60 do século passado, revigorando o que dispunham leis estaduais dos tempos autoritários. Projeto de lei de autoria de um obscuro deputado, em tramitação naquela Casa, dispõe que os Promotores de Justiça só poderão promover ações de improbidade mediante determinação ou autorização expressa do Procurador-Geral. Como o governador não respeita a vontade da classe, deixando de nomear para o cargo o mais votado, ficará tudo como o diabo gosta. Com as mãos amarradas, os Promotores ficarão a contemplar inertes todos os tipos de malandragens. Recomeçará, então, a árdua luta pela reconquista da atribuição retirada ao Ministério Público e assim os tempos passarão enquanto continuaremos a andar em círculos. Até quando, só o futuro dirá.

Enquanto isso, o noticiário a respeito do atentado de Boston revela ao mundo que os Estados Unidos são um país acuado. Não faz muito que a maior potência mundial tremia diante da imagem barbuda de Bin Laden exibida pela televisão até que ele foi morto de surpresa em sua própria casa. Agora, dois rapazolas balançaram as estruturas americanas e para apanhá-los foi organizada tal caçada que beirou o patético. Embora simples suspeitos, um deles foi morto e o outro ferido com gravidade, depois de confessar por escrito, de maneira livre e espontânea (?!), tudo que os interrogadores desejavam e, talvez, até um pouco mais. E os americanos, perplexos, não conseguem atinar com a razão pela qual são odiados, uma vez que são tão democráticos e generosos.

Imagino cá com meus botões que o futuro daquele país será de permanente medo e desconfiança. E, no entanto, seria fácil alterar o rumo das coisas. Bastaria que deixasse de se intrometer nos negócios alheios, não aumentasse o rol das invasões em outros países (já foram mais de uma centena) e não interferisse na vida dos demais povos. Bastaria que evitasse as provocações e não exercitasse a costumeira prepotência contra os mais fracos, como vem fazendo no correr dos tempos. Quem sabe uma pequena dose de humildade, permitindo a autocrítica e o reconhecimento de seus próprios erros. Resistindo à pressão dos belicistas de plantão e dos fabricantes de armas. Renegando um passado repleto de agressões contra outros povos. Colocando em prática, enfim, aquele dito que seu povo tanto repete: viva e deixe viver.

Estou certo de que colecionariam amigos em todo o planeta e poderiam encarar o futuro sem medo e sem desconfiança. Isso, porém, seria como pedir ao escorpião que renegasse sua própria índole.



(28 de junho/2013)
CooJornal nº 846