25/01/2013
Ano 16 - Número 824

ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO

 

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Enéas Athanázio



NIEMEYER: SINGELA HOMENAGEM

Enéas Athanázio - Colunista, CooJornal

Numa singela homenagem a Oscar Niemeyer, falecido em 5 de dezembro, reli dois livros dele: “Diante do Nada” (Editora Revan – Rio – 1999) e “Minha Arquitetura” (Idem, idem – 2000). O primeiro deles é um longo conto, quase uma novela, escrito na forma coloquial e direta em que ele costumava falar e com aquelas ilustrações inconfundíveis que estava sempre rabiscando. É uma de suas raras incursões no reino da ficção e foi louvada por muitos leitores, inclusive críticos qualificados, a exemplo de Flora Sussekind, Fernando Moraes e Darcy Ribeiro. O conto retrata a história do jovem professor universitário que é perseguido pelo regime autoritário e para escapar dos olhos da repressão se refugia em longínqua e desconhecida cidade nordestina, à beira-mar, onde passa a viver anônimo, em companhia da namorada, numa modesta casinha de praia. Ele se recusa a sair do país, exilando-se no exterior, como tantos fizeram. Por discreto que seja, no entanto, vai aos poucos conhecendo outras pessoas, todas elas inconformadas com a situação reinante, e com as quais costumava se reunir num barzinho do centro, entre elas o pároco da cidade. Seu espírito de liderança logo desabrocha e começa a discutir com os amigos a respeito do que acontecia no país e no mundo, o que, como se poderia esperar, atrai a atenção da polícia e provoca os costumeiros atos repressivos. O final é trágico e, como de praxe, culmina em sangue e violência em que o jovem casal acaba perecendo. Tudo indica que o conto tem muito de real, inspirado em fatos que foram corriqueiros durante mais de vinte anos. É mais um dos muitos episódios que pontilharam os chamados anos de chumbo. Os fatos entraram na história da cidade e geraram até uma lenda: um filho de Lili e Way, o casal de personagens, nasceu nas águas do mar. Tem corpo de homem e cabeça de peixe, é forte, alto, mais de cinco metros, e, com uma espada de fogo, aparece pela praia nos dias de trovoada. Os que o viram e ouviram falar acreditam que vai mudar o mundo... (p. 99).

O outro volume reúne reflexões do arquiteto sobre sua obra e o significado dela, trechos de memórias de sua longa e produtiva existência e opiniões sobre o mundo, o país e a vida pessoal. Começa desde logo com palavras de humildade: “Para mim a arquitetura não é o mais importante. Importantes são a família, os amigos e este mundo injusto que devemos modificar.” Depois, em páginas impregnadas de sentimento, expõe os seus conceitos e seu amor pelas curvas da natureza, dos rios e dos mares, da própria mulher preferida. Entre desenhos e fotos, como quem ministra uma animada aula, vai dedilhando os segredos de sua criação, a maneira como ela se forma dentro dele e como a visualiza em concreto. No final, em apêndice, há um álbum de fotos de suas principais obras, espalhadas pelo Brasil e pelo mundo, dentre elas muitas que tive a satisfação de conhecer. Lá estão a igrejinha da Pampulha, marco do Modernismo brasileiro, o palácio da Alvorada, cujas colunas foram as mais bonitas que André Malraux viu depois das gregas, a catedral de Brasília, o edifício do Congresso Nacional, o fantástico Museu de Arte Contemporânea (MAC), de Niterói, e várias outras do exterior. Sem falar no Memorial da América Latina com o Parlatino, em São Paulo, com a mão estampando a América Latina que se tornou célebre em todo o mundo, o edifício Copan e o pavilhão da Bienal, ícones da Paulicéia, além de obras pouco conhecidas mas nem por isso menos belas, a exemplo do Memorial Coluna Prestes, em Palmas (TO). É um conjunto de realizações, algumas delas antes consideradas impossíveis, que orgulha não apenas uma pessoa mas toda a nacionalidade.

Para encerrar, vale transcrever duas opiniões sérias e isentas. “Selecionamos o Museu de Arte Contemporânea de Niterói entre as sete maravilhas do mundo” (Revista Condé Nast Traveller). “Classificamos o Museu de Arte Contemporânea de Niterói como um dos dez prédios mais importantes da década” (Revista World Architecture).
É preciso dizer mais?


(25 de janeiro/2013)
CooJornal nº 824



Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC


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