11/01/2013
Ano 16 - Número 822

ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO

 

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Enéas Athanázio



CINEMA E TEATRO

Enéas Athanázio - Colunista, CooJornal

O mineiro Guido Bilharinho é um arguto e incansável crítico de cinema, destacando-se entre os melhores do país. Prosseguindo no seu plano de colocar em livros, para melhor e mais duradoura conservação, o paciente e longo trabalho de análises de filmes e cineastas que vem fazendo, acaba de publicar o volume “Seis cineastas brasileiros”, em edição do Instituto Triangulino de Cultura, de Uberaba (2012). Nele são abordadas as obras de Mário Peixoto, Humberto Mauro, Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha, Paulo César Saraceni e Júlio Bressane, figuras da maior expressão na cinematografia nacional. “Sem sombra de dúvida, - afirma o autor – tanto pelo conjunto quanto por alguns espécimes seminais, as filmografias (desses cineastas) ressaltam-se sobremaneira no panorama cinematográfico brasileiro, merecendo e mesmo requerendo e impondo sua destacada focalização...” (p. 9).

O primeiro a merecer exame é o filme “Limite”, de Mário Peixoto, realizado em 1930. É um filme que nunca tive oportunidade de ver, ainda que muitas vezes tenha liso sobre ele, sempre em tons superlativos. E nesse sentido Bilharinho faz eco às demais manifestações, Com apenas 22 anos de idade, numa época em que o cinema contava com apenas 35 e era muito precário, o cineasta brasileiro realizou uma espécie de milagre e produziu “uma das obras primas do cinema e da arte em geral” (p. 15). Penetra, em seguida, numa profunda e minuciosa análise do filme para concluir que “Limite, como cinema, é tudo e um pouco (ou muito) mais” porque nele “não há senões, só qualidades” (pp.. 15 e 17). É pena que o filme seja de tão difícil acesso.

Humberto Mauro, grande pioneiro, teve diversos filmes analisados no volume. Segundo o autor, “um desses fenômenos, aparentemente inexplicáveis, constituem os primeiros filmes de Humberto Mauro. Só de tê-los feito no Brasil, na década de 1920, distante dos centros mais desenvolvidos do mundo e até do país já é façanha digna de atenção” (p. 27). E de fato, realizar filmes que a crítica sagrou como obras-primas, em pleno interior mineiro e sabendo-se quanto é complexa sua realização, é façanha de causar espanto. Mas a obra de Humberto Mauro não se destaca apenas por esses fatos históricos; ela é vasta e da melhor qualidade técnica e artística. A análise começa com “Tesouro Perdido” e vai até “O Canto da Saudade”, repassando, em ordem cronológica, a obra do cineasta, sem faltar “Ganga Bruta”, acredito que um dos seus filmes mais conhecidos.

Também Nélson Pereira dos Santos tem muitos filmes submetidos ao crivo do autor. Destaco os inesquecíveis “Vidas Secas” e “Memórias do Cárcere”, baseados em Graciliano Ramos, “Tenda dos Milagres” e “Jubiabá”, inspirados em Jorge Amado, e “A Terceira Margem do Rio”, baseado em Guimarães Rosa. A obra dos demais cineastas já referidos é submetida ao mesmo processo de exame, técnico e criterioso, fazendo do livro um rico manancial de informações para os adeptos da sétima arte e constituindo importante contribuição para a preservação da memória do cinema nacional. Guido Bilharinho merece aplausos por mais este lançamento, enriquecendo a sua produção anterior composta de várias obras na mesma linha (*).

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A catarinense Martina Sohn Fischer, natural de Porto União e com apenas 19 anos de idade, vem merecendo invulgar destaque pela peça teatral “Aqui”, por ela escrita e montada com grande sucesso pelo grupo Club Noir, de São Paulo. Segundo o crítico Luiz Fernando Ramos, a peça tem características que a aproximam de Gertrude Stein e Samuel Beckett por sua tradição antidramática. Roberto Alvim, um dos mais importantes diretores teatrais do país e líder do mencionado grupo, não regateia elogios e diz: “A obra de Martina Sohn Fischer avança em direções até agora não trilhadas pela dramaturgia, ampliando a experiência estética de nosso tempo, através da invenção de outras linguagens, isto é: de outras formas de vida.” É uma verdadeira consagração. Martina merece a melhor atenção dos catarinenses, ainda que nada tenha visto até agora em nossa imprensa.

Como em tantos outros casos, Martina deixou o Estado e se fixou em Curitiba. Parece destino que os autores catarinenses, para obter reconhecimento nacional, tenham que partir. Espero que a jovem continue produzindo obras do melhor quilate, consolidando em definitivo o renome conquistado com tanta rapidez. Nestes quarenta anos de vida literária vi muito gênio explodir e desaparecer num repente e faço votos de que tal não aconteça com ela.

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(*) Contatos com o Instituto Triangulino de Cultura:
Caixa Postal 1 4 0 – CEP 38001-970 – Uberaba – MG
(Publicado no jornal “Página 3”, de Balneário Camboriú, em
20/10/12, pág. 26, e no site “Coojornal – Revista Rio Total”).




(11 de janeiro/2013)
CooJornal nº 822



Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC


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