14/12/2012
Ano 16 - Número 818

ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO

 

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Enéas Athanázio



SINFONIA DO IGUAÇU

Enéas Athanázio - Colunista, CooJornal

Com esse título, a pianista e professora de música Margareth Rose Ribas, filha de meu antigo colega de Colégio Joaquim Osório Ribas, publicou um livro raro. Em edição da Secretaria da Cultura do Estado do Paraná (2006), a obra é um minucioso e esmerado levantamento das atividades musicais nas cidades de União da Vitória (PR) e Porto União (SC), as chamadas Gêmeas do Iguaçu, desde os primórdios até os dias de hoje. Mergulhando sem cansaço no acervo de informações disponíveis, a autora rebuscou livros, jornais velhos, papelada empoeirada, arquivos públicos e individuais, registros de atas, documentos de todos os tipos e até partituras de peças musicais esquecidas ou desconhecidas. Além disso, entrevistou contemporâneos dos fatos, extraindo deles todas as informações possíveis. E de posse de tão substancioso material, escreveu um livro que resgata do esquecimento a história musical daquelas cidades. É um trabalho meritório e que tem como autora uma pessoa do meio artístico, conhecedora do assunto, e assim habilitada a realizar tal empreitada.

O livro se abre com curioso resumo da história da música no correr dos séculos, desde que o ser humano buscou produzir os primeiros sons ordenados, com certeza imitando “o sopro do vento, o ruído das águas, o canto dos pássaros, o ribombar dos trovões...” (p. 15). E desde então, a duras penas, inventou instrumentos e evoluiu, passo a passo, no ordenamento dos sons até chegar às mais sofisticadas criações musicais. Segundo os estudiosos – escreveu ela – as primeiras manifestações musicais não deixaram vestígios. Ninguém, contudo, pode “dizer com exatidão o momento em que os primitivos começaram a fazer arte com os sons” (idem). É um capítulo aberto à imaginação, desde que dentro dos parâmetros lógicos da história humana.

Com a descoberta do vau do rio Iguaçu, em 1842, logo abaixo da atual ponte férrea, tem início intenso trânsito de tropas em busca das feiras de Sorocaba, em São Paulo. E são os tropeiros os mais remotos músicos da região, alegrando as noites com os sons de suas sanfonas e violas durante as pousadas e sesteios. Seriam eles, portanto, os pioneiros da produção musical no chão das cidades gêmeas de hoje. Transportando informações, encomendas e correspondência, contribuíram para implantar o gosto pela música que seria uma constante na história local.

A partir daí, a autora se lança em minuciosa e paciente busca de tudo quanto respeita ao assunto. Fazendo um levantamento dos grupos musicais, chega até a primeira orquestra sinfônica de Porto União, criada pelo pianista Francisco Amann, em 1932, e denominada Elite Orquestra. São relacionados seus integrantes, registrada sua atuação e sua história, além de reproduzir fotos, convites, programações e propaganda alusiva à suas apresentações. Lembra, a seguir, os músicos que animavam o cinema mudo, fazendo o fundo musical das sessões, por volta de 1916. O grupo musical da família Kurten, bem como a Orquestra Filarmônica União, reunindo músicos de ambas as cidades e que teve destacada atuação. Fundada por Alvim Ulrich, contou com a liderança do maestro italiano Mario Rinaldi, que mais tarde comporia o capricho sinfônico “l’Iguassú”, ligando para sempre seu nome àquelas cidades. Nesse capítulo são lembrados ainda o Conjunto de Harmônicas e o Conjunto Seresteiros do Iguaçu, sempre com farta documentação.

Nos capítulos seguintes a autora trata dos grupos de câmera, das bandas musicais que existiram nas cidades, bastante numerosas, sem esquecer a do Colégio São José, da qual participei, e, mais tarde, da Fundação Musical Fascinação, vencedora de vários concursos de fanfarras. São lembrados os professores de música, alguns dos quais conheci, e as escolas para o ensino musical, algumas de longa duração e grande destaque. Merecem detido exame os compositores de renome, como Felício Junqueira Domit, Ernesto Ulrich Breyer, João Nito Gaspari e o cantor e poeta Yvonnich Furlani, figura muito admirada na região. São lembrados músicos de fama, como Henriqueta Duarte, Nuno Roland, ali nascido e radicado no Rio, e Jeferson Bernardon. Capítulo especial é dedicado ao maestro Mario Rinaldi, registrando sua inesquecível passagem pelas cidades gêmeas. Muitos outros aspectos da vida musical local são registrados no livro, do qual estas notas constituem simples amostra. Ele fornece uma visão panorâmica e de conjunto das atividades musicais locais como poucas cidades possuem. E por tudo isso a autora merece os aplausos dos que apreciam a história e, mais ainda, dos que gostam de música.


(14 de dezembro/2012)
CooJornal nº 818



Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC


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