12/10/2012
Ano 16 - Número 808

ENÉAS ATHANÁZIO
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Enéas Athanázio



BALANÇO LITERÁRIO

Enéas Athanázio - Colunista, CooJornal

Em “Alguma prata da casa” (Nave da Palavra – Natal – 2012), sua mais recente obra, o operoso escritor Manoel Onofre Júnior realiza um exemplar trabalho de revisão da literatura de seu estado natal, matéria que revela conhecer a fundo e em minúcias. É como um balanço comentado da produção literária de seus conterrâneos, fornecendo um panorama geral que me parece único no Rio Grande do Norte e que precisaria ser elaborado também por aqui, retirando do esquecimento muitos autores do passado e outros tantos de hoje que vêm sendo pouco divulgados. Por tudo isso, o ensaio de Manoel Onofre Júnior merece atenção como exemplo e o reconhecimento dos autores locais a quem presta importante serviço de documentação e divulgação.

O ensaio se abre com a indicação daqueles livros que o autor considera os mais importantes do século passado na literatura estadual. Em seguida, informando que na escolha de cada obra não levou em consideração “apenas o seu valor intrínseco, mas também sua relevância história”, destaca os dez livros eleitos, qualquer que sejam o gênero a que pertença. Nessa listagem, como se poderia prever, surgem nomes que obtiveram reconhecimento nacional, ultrapassando as divisas estaduais, como Auta de Souza, Luís da Câmara Cascudo, Homero Homem, Newton Navarro e Oswaldo Lamarine de Faria. Cada obra é seguida de breve comentário justificando sua relevância. E, no final do capítulo, minuciosas referências bibliográficas orientam o leitor.

No capítulo seguinte o autor aborda a prosa de ficção. Discute, em preliminares, algumas questões interessantes, como é o caso de Nísia Floresta que, além de ter vivido pouco no estado, produziu uma obra que não possui qualquer relação com ele e sua gente. Poderá ela, nessa condição, integrar a literatura daquele estado? É uma indagação que também faço em relação a alguns autores, catarinenses de nascimento, que pouco ou nunca viveram aqui e cuja literatura não tem liame algum com nossa terra e nosso povo. É claro que isso não retira o mérito literário dessa mulher extraordinária que foi grande educadora e célebre precursora do feminismo, como bem acentuou o autor. Outro aspecto interessante é o fato de que naquele estado abundam os poetas e poucos são os ficcionistas, ainda que este gênero venha crescendo. Não se fez, que eu saiba, levantamento semelhante aqui em terras catarinenses, mas creio que a situação é semelhante: muitos poetas e poucos ficcionistas. Em seguida, excluindo os vivos para não acender as fogueiras da vaidade, ele alinha os autores que marcaram a ficção regional. Entre os mais conhecidos em âmbito nacional aparece Umberto Peregrino.

Em capítulo que surpreende pela extensão, revelando a riqueza do gênero, o autor aborda a memorialística, gênero em que se consagraram, entre outros, Gilberto Amado e Pedro Nava. Como as biografias e autobiografias, foi por muito tempo considerado um subgênero, mas aos poucos se impôs e conquistou o status de verdadeiro gênero literário, hoje praticado em larga escala e com grande quantidade de leitores. Adverte o autor de que se trata de uma “pequena bibliografia crítica” organizada “na expectativa de que a mesma venha a servir de guia aos leitores.” Alinha a seguir as obras mais significativas, num total de 35 autores, alguns com mais de um livro do gênero, o que constitui um número significativo num estado pequeno. Dentre os autores, destaco Câmara Cascudo, que brilha em qualquer gênero, Umberto Peregrino, Aluízio Alves e Raimundo Nonato, este último autor de suas memórias de retirante, na infância, narradas com simplicidade e sentimento.

No capítulo “Notícia sobre a crônica”, o ensaísta realiza um passeio pela história do gênero naquele estado, desde os mais antigos cronistas, com destaque para os nomes mais representativos. Complementando o trabalho, relaciona muitos livros de crônicas, assim informando os leitores interessados.

Outros ensaios enriquecem o livro, como “Câmara Cascudo, historiador regional”, a volumosa obra de Raimundo Nonato da Silva, Edgar Barbosa e seu centenário de nascimento, um retrato de Dorian Gray Caldas, alguns discursos acadêmicos e a deliciosa crônica “O galo da torre”, que fecha o volume. Refere-se ao galo da torre da igreja de Santo Antônio, uma “das coisas líricas de Natal mais celebradas em versos” e na qual nada menos que oito poetas se inspiraram.

Trata-se, enfim, de um livro que ao prazer da boa leitura conjuga a melhor utilidade.


(12 de outubro/2012)
CooJornal nº 808



Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC


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