27/07/2012
Ano 16 - Número 797

ENÉAS ATHANÁZIO
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Enéas Athanázio


O VALOR DA PALAVRA

Enéas Athanázio - Colunista, CooJornal

Em livro publicado no ano passado, a poeta e ensaísta Elizabeth Rennó reuniu diversos ensaios abordando variados temas relacionados à literatura. Trata-se de “Post-Scriptum” (Anonelivros – Belo Horizonte – 2009), com o qual a autora homenageou a Academia Mineira de Letras no ano de seu centenário. São trabalhos de uma pessoa erudita e conhecedora das coisas literárias, procurando lançar luzes sobre aspectos às vezes complexos dessa arte que é uma das mais difíceis que existem – a literatura. No correr da leitura ela desvenda muitos segredos nem sempre conhecidos do leitor, ensinando-o e orientando-o, objetivo que é, afinal, a própria razão da crítica literária. Pois – como dizia Nereu Corrêa, nosso crítico maior – a função do crítico é guiar o leitor na selva dos livros existentes para que saiba distinguir o joio do trigo.

Entre os múltiplos ensaios que compõem a coletânea, a autora aprofunda investigações sobre temas como a herança portuguesa na língua do Brasil, a análise literária, o corpo textual, aspectos variados da poesia e do romance e muitos outros. Aborda a obra de inúmeros escritores, dentre eles Domingos Carvalho da Silva, João Cabral de Melo Neto, Lêdo Ivo, Adélia Prado, Lacyr Schettino, Henriqueta Lisboa, Carlos Drummond de Andrade, Alaíde Lisboa de Oliveira, Agripa Vasconcelos, Aníbal Mattos, João Alphonsus, Milton Campos e os mestres Guimarães Rosa e Machado de Assis. Mergulha ainda em temas interessantes, como o indianismo literário, a Geração de 45, a literatura infantil, a linguagem poética, Santos Dumont, o homem-pássaro, a poesia de Emily Dickinson e assim por diante. Como se vê, é a permanente preocupação com as letras, sopesando sempre e sempre o valor da palavra, uma vez que ela é o instrumento do escritor.

“O valor da palavra”, um dos ensaios iniciais, é dos mais curiosos do volume e bem merece um exame mais detido. Em certa passagem a ensaísta deixa aflorar uma preocupação constante de todo escritor. “Vive-se hoje – diz ela – a agonia e a morte de palavras que se fizeram alicerces de uma civilização – virtude, educação dos espíritos, polidez, cultura das artes e das ciências. Experimentamos a época da força bruta, guerras, assassinatos, a velocidade supersônica, os ruídos da comunicação, o excesso de imagens” (p. 17). Em suma, aquela convivência lenta e meditada com os vocábulos não existe mais e a consequência é o empobrecimento do linguajar das pessoas em geral, limitando-se cada vez mais ao estritamente essencial à sobrevivência.

Referindo-se à História, afirma ela que é “uma retomada de operações culturais começadas e continuadas pelo nosso presente numa caminhada possível. O caminho será o reino das palavras com seu mundo de significações e relações e que tem o poder de refletir valores e costumes, e que formará a base do mundo de nossa cultura” (idem). Em síntese: ou cultuamos o valor da palavra ou retrocederemos aos guinchos e trejeitos ancestrais. Uma vez que é o uso da palavra que nos distingue dos seres inferiores.

Elizabeth Rennó é autora de numerosos livros e mantém permanente colaboração em publicações literárias. Mereceu vários prêmios e distinções. Integra a Academia Mineira de Letras e a Academia Feminina Mineira de Letras. É mestre em Literatura Brasileira pela UFMG.


(27 de julho/2012)
CooJornal nº 797



Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC


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