20/07/2012
Ano 16 - Número 796

ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO

 

Follow RevistaRIOTOTAL on Twitter

Enéas Athanázio


 RARIDADES

Enéas Athanázio - Colunista, CooJornal

Graças à generosidade de amigos que estão sempre lembrando de mim, recebi do Prof. Guilherme Queiroz de Macedo, de Belo Horizonte, dois pequenos livros que constituem raridades e tratam de assunto que me é muito caro: a vida e a obra de Monteiro Lobato (1882/1948). Trata-se de “O pai da Emilia” e “Monteiro Lobato das crianças.”

O primeiro, publicado em 1960, é uma edição comemorativa do décimo aniversário da Biblioteca Infantil Monteiro Lobato, fundada em 1950, na cidade de Salvador e que conta hoje com mais de 60 anos de serviço dedicados aos livros e seus leitores. Como se trata de obra destinada às crianças, foi redigido em linguagem simples e coloquial, ao alcance de todos que se iniciam na convivência com os livros. Ele se propõe a “contar a história do criador de Emília, o maior escritor infantil do Brasil, o homem que vem enchendo a vida de gerações com a maravilha do seu gênio.” Trata-se, portanto, de uma biografia, ainda que bastante simplificada, abordando apenas os acontecimentos mais relevantes da vida frenética desse escritor que foi, ao mesmo tempo, um incansável homem de ação. Desde o nascimento, em Taubaté, é relembrada a história do “neto do Visconde”, passando pelos estudos, os anos acadêmicos, a promotoria em Areias, a transformação em fazendeiro, os anos vividos em Nova York, como adido comercial, as atividades como editor, livreiro, jornalista, e o imenso sucesso como escritor que perdura até os dias de hoje. O pequeno livro contém ainda uma relação completa das obras de Lobato, conforme foram organizadas e publicadas por ele. E reproduz diversas fotografias interessantes das várias fases da vida do escritor, bem como desenhos que ilustraram as primeiras edições de seus livros, alguns deles admiráveis pela fidelidade aos personagens das histórias infantis. O pequeno livro é uma boa iniciação para quem deseja conhecer o pai de Emília, infelizmente, como tantos outros, esgotado e de difícil acesso.

O segundo livro é de autoria de Alaor Barbosa, escritor goiano radicado em Brasília de longa data, e foi publicado quando o autor contava apenas 20 anos de idade (Editora Caminho – Rio de Janeiro). Aderindo ao estilo tradicional dos contadores de histórias, ele adotou a postura do narrador onisciente que faz um relato ao sobrinho Tidinho, de apenas três anos de idade, sobre as experiências de Monteiro Lobato ao longo da vida. Nessa toada, vai abordando momentos significativos da movimentada vida do escritor e do surgimento de sua obra no correr dos tempos. Muitas passagens são deveras emocionantes e têm tudo para agradar aos ouvintes/leitores. Dentre tantas, recorda a visita do Imperador Dom Pedro II à Província de São Paulo, quando se hospedou na casa do avô de Lobato, então com oito anos de idade. O escritor jamais esqueceria a surpresa que lhe causou um homem tão grande e barbaçudo, portador de imensa barba branca, com uma voz tão fininha. O menino Lobato achou aquilo estranho, esquisito, e passou a acompanhar o rei para lá e para cá, escondendo-se atrás das portas para melhor escutá-lo e, acima de tudo, ouvi-lo. Relata também a decisão de Lobato, ainda garoto, de mudar de nome. Batizado como José Renato Monteiro Lobato, decidiu alterar para José Bento Monteiro Lobato, o que lhe permitiria usar a bengala do pai que continha no castão as iniciais JBML. Verdade ou lenda, o fato é que o próprio escritor endossou a história, segundo Edgard Cavalheiro, seu mais categorizado biógrafo. Inúmeros outros eventos relacionados ao escritor são relembrados, entre eles a prisão de Lobato em 1941, ocasião em que permaneceu recluso por três meses, parte deles incomunicável, os anos vividos em Areias e na Fazenda do Buquira, contrabalançados pelos que passou em Nova York, como adido comercial. E por fim, a extraordinária aceitação de suas obras, proporcionado-lhe um sucesso jamais alcançado por um homem de letras no Brasil.

Além de um belo estudo biográfico destinado às crianças, o pequeno livro é uma homenagem ao criador do Sítio do Picapau Amarelo.


(20 de julho/2012)
CooJornal nº 796



Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC


Direitos Reservados