13/07/2012
Ano 16 - Número 795

ENÉAS ATHANÁZIO
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Enéas Athanázio


A PASSARELA CHARLOT E OUTROS ASSUNTOS
 

Enéas Athanázio - Colunista, CooJornal

Num ato que, se não é inédito é, pelo menos, raro ao extremo nos rincões catarinenses, a Municipalidade de Joinville inaugurou uma obra pública com o pseudônimo de um escritor. Isso aconteceu na noite de 26 de março, numa segunda-feira histórica, e tive a satisfação de marcar presença, na ocasião em que a ponte ou passarela sobre o rio Cachoeira, ligando as principais avenidas da cidade, em concorrida solenidade, recebeu o nome de Passarela Charlot. Foi uma homenagem ao escritor, jornalista e advogado Carlos Adauto Vieira, um dos grandes cronistas de nosso Estado, formando o célebre triunvirato com os saudosos Jair Francisco Hamms e Holdemar Oliveira de Menezes, mestres do gênero. Charlot foi o codinome por ele adotado durante longos anos para assinar suas crônicas na imprensa numa época em que esteve proibido de escrever pela ditadura. Nessas crônicas, versando os mais variados assuntos, em numerosas oportunidades contestou a ditadura em defesa da liberdade, e, embora em direito contestação signifique defesa, naqueles tempos bicudos constituía crime punido pela famigerada Lei de Segurança Nacional. Tais contestações lhe valeram diversas prisões, algumas bastante prolongadas. Mas agora, em clima de liberdade, Charlot foi imortalizado numa obra pública importante e que tem o mérito de ligar o Centreventos, sede da Escola Bolshoi, ao Fórum da comarca, ou seja, fazendo um elo entre a arte e a justiça. Estão de parabéns o Charlot e a Municipalidade de Joinville, ele pela justa homenagem recebida, ela por homenagear um escritor num Estado onde se costuma homenagear de tudo exceto os homens de letras.
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Minha estimada amiga Stella Leonardos está publicando nova obra. Trata-se de “Memorial da Casa da Torre”, belíssimo livro em que ela celebra em inspirados poemas a Casa da Torre de Garcia D’Ávila, de grande significação histórica e que exerceu muita influência nos destinos de nossa terra. O livro é lastreado em amplas e profundas pesquisas, sempre atento às fontes mais confiáveis, e sua leitura conduz a um reencontro com a boa poesia. Stella é a atual presidente da Academia Carioca de Letras, da qual tenho o prazer de ser sócio-correspondente, e secretária-geral da União Brasileira de Escritores (UBE-RJ), além de pertencer a inúmeras outras entidades culturais. Poeta, romancista, dramaturga, tradutora e autora de livros infantis, tem mais de duzentos títulos publicados e recebeu mais de trinta prêmios, dos quais nove da Academia Brasileira de Letras (ABL).
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A excelente “Revista E”, em seu número de março, publicou interessante matéria a respeito do sociólogo e escritor Gilberto Freyre, a quem denomina de intérprete do Brasil e que dedicou toda a vida ao conhecimento do país, “associando a vivência pessoal à memória coletiva em um método inovador de análise.” Destaca a circunstância de que ele optou por caminhos diferentes nas análises sociais, valorizando a “memória do corpo”, o “método da saudade” e as cartas, diários e anotações pessoais de gente do povo, mais sinceras e verídicas que muitos documentos oficiais. Freyre também mostrou que o grande mérito do colonizador português foi a ausência de preconceito contra o negro, antes pelo contrário, o que evitou conflitos raciais violentos, como aconteceu em outros países. É interessante observar que, antes de tudo, ele preferia ser tido como escritor e nada mais. A reportagem é ilustrada com boas fotos, uma delas mostrando o escritor sentado na poltrona onde gostava de escrever e que tive oportunidade de conhecer na Fundação Gilberto Freyre, no bairro de Apipucos, no Recife, onde minha mulher e eu fomos recebidos com tanta alegria pela viúva do escritor, D. Madalena (*).
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(*) “Revista E”, publicação do SESC – SP, março de 2012, págs. 22 a 26.



(13 de julho/2012)
CooJornal nº 795



Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC


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